De acordo com a instituição, a última medição pelo Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada – Esalq/USP), do preço do leite recebido pelo produtor no final de junho, apontou elevação de 8% frente ao mês anterior, para R$ 2,20 por litro, sendo o maior valor histórico para o mês, em termos reais.
Embora em um primeiro olhar o patamar sugira um momento espetacular para o produtor, quando observada a atividade leiteira sob a ótica da relação de troca leite/milho. Fica claro que a alta recente do leite apenas aliviou um pouco relação, que segue em alto patamar histórico. Esta melhora do indicador para o produtor de leite também teve a influência da queda do preço do milho em junho, da ordem de 9,5% no Triângulo Mineiro, associada ao início da entrada em comercialização do milho safrinha e da apreciação cambial.
Condições Climáticas
Apesar disso, novos estragos em áreas de milho safrinha mais tardias em função das geadas nos últimos dias voltaram a adicionar preocupação ao reduzir ainda mais a expectativa de produção da segunda safra. O que significa que a continuidade do movimento de queda do milho é incerta.
A seca, desde o último verão, afetou o produtor de leite de duas maneiras: a primeira foi o comprometimento precoce da qualidade das pastagens nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, principalmente, antecipando a necessidade de suplementar o rebanho.
Além disso, a estiagem afetou o potencial de produção de milho, primeiramente na região Sul, no caso do milho verão. Mais recentemente o milho safrinha na maior parte das principais bacias leiteiras, mantendo o mercado do cereal escasso e consequentemente caro.
A qualidade das silagens produzidas também prejudicou pelo clima adverso. Com isso, vem ficando difícil manter o crescimento da captação de leite, que pelo indicador do Cepea desacelerou de 5,6% em março para 3,6% em maio, em relação ao mesmo mês do ano passado. Já em comparação com o mês anterior, a última alta observada foi em dezembro de 2020.
Essa situação no campo vem elevando a disputa dos laticínios pela matéria-prima, o que se reflete nas cotações do produto no mercado spot, acima das referências. Além disso, o estímulo ao investimento na atividade leiteira também segue baixo.
Impasse nos Laticínios
Sob a ótica dos derivados lácteos, a situação dos laticínios também é desafiadora. Afinal, ao seguirem com preços historicamente elevados, acabam desestimulando a demanda. Que tem se mostrado frágil sem a presença de um auxílio emergencial mais robusto, como o do ano passado.
Mesmo com os preços de alguns dos derivados bem acima de um ano atrás – caso do leite em pó (20,5%), leite C (28,8%) e outros queijos com elevações superiores a 20%, mais UHT e muçarela que subiram 5,5% –, os spreads da indústria nestes produtos se mantêm entre os mais baixos da história. Há um ano, o preço do leite ao produtor ainda não havia escalado. Mas os derivados sim, o que ampliou bastante os spreads e fortaleceu o interesse dos laticínios. Ou seja, neste momento o cenário é bem diferente, com necessidade da indústria em repassar custos aos consumidores finais e possibilidade de altas adicionais na matéria prima, em meio à oferta restrita pelo menos até a melhora da condição das pastagens por volta do último trimestre do ano.
Olhando para frente
Um gradual aumento da captação geralmente ocorre a partir de julho/agosto, em função da melhora das condições na região Sul com as pastagens de inverno. Entretanto, no Sudeste e Centro-Oeste, a baixa qualidade das pastagens e a ração cara devem seguir limitando a recuperação. O que sugere um ritmo de produção, no agregado, mais contido relativamente ao ano passado.
Do lado da demanda, o viés de melhora nas projeções de recuperação do PIB para este ano, traz um alento para as expectativas de consumo. Embora pouca melhora deva ocorrer em termos de emprego e consequentemente na massa de salários.
Uma melhora do consumo também deve ser desafiada pelo aumento da inflação em geral. O que impacta o consumo de alimentos das famílias de menor renda. Já a possibilidade de um real mais apreciado, pode trazer algum alívio aos produtores do lado dos custos dos grãos. Porém eleva a atratividade das importações por parte da indústria. Sobretudo diante do cenário de preços firmes ao produtor. Finalmente, vale destacar que com a provável firmeza do preço do boi e da vaca de descarte. O produtor de leite deve continuar sensível à possibilidade de reduzir seu rebanho. O que teria um consequente e rápido efeito negativo na oferta de leite (Forbes, 7/7/21)
Por Brasil Agro