A Vale (VALE3) tirou um forte fator de incerteza da companhia, o que deve clarear os caminhos e ser um desdobramento positivo à frente. A mineradora oficializou na noite da última segunda-feira (26) o nome de Gustavo Pimenta como seu novo CEO (diretor presidente), eleito de forma unânime pelo Conselho de Administração.
Já no pré-mercado, o recibo de ações VALE negociado em Nova York (os chamados ADRs) subia cerca de 2% no pré-market da NYSE, também levando em conta o novo dia de avanços do minério de ferro. Na abertura do mercado na B3 nesta terça-feira (27), às os ativos VALE3 subiam 2,50%, a R$ 59,50.
Conforme destaca a Genial Investimentos, a escolha do novo CEO ocorre após um longo imbróglio para o processo de seleção, envolvendo a recomendação de uma lista tríplice da consultoria Russell Reynolds, que foi contratada em maio para auxiliar nessa tomada de decisão.
Pimenta, que atualmente é CFO (diretor financeiro) da companhia, traz mais de 20 anos de experiência executiva.
Conforme destaca o Bradesco BBI, este anúncio veio antes do previsto, uma vez que a decisão era esperada apenas para dezembro. Pimenta sucederá o atual CEO, Eduardo Bartolomeo, assumindo sua nova função em 1º de janeiro de 2025 (em linha com o cronograma da empresa divulgado em 1º de maio).
“Lembramos que a sucessão da Vale tem dominado as manchetes nos últimos meses. No início de março, a Vale anunciou que o Conselho de Administração decidiu estender o mandato atual de Eduardo Bartolomeo (que inicialmente expiraria em setembro) apenas até dezembro, bem como iniciar o processo de sucessão em linha com a sua política. Em maio, a empresa divulgou o cronograma de sucessão do CEO, que estabeleceu a contratação de uma empresa de consultoria para conduzir o processo de headhunting, com o anúncio do novo CEO previsto para se materializar apenas em 3 de dezembro”, apontou o banco.
O BBI também ressaltou que esperava uma reação positiva do mercado, pois vê o anúncio do CEO mais cedo do que o esperado como um evento de redução de risco para a Vale. A Genial lembra que muitos investidores se questionavam sobre qual seria a decisão do conselho na escolha da sucessão de Bartolomeo, e se a companhia iria ceder às pressões políticas.
“Destacamos que a incerteza relacionada ao próximo CEO foi uma das principais preocupações entre os investidores, e o anúncio deve ser bem recebido pelo mercado, considerando: (i) o momento (os investidores esperavam que uma decisão fosse anunciada apenas em dezembro); (ii) que Gustavo Pimenta construiu um histórico sólido com investidores e a comunidade de mineração em geral; e (iii) uma transição de CEO potencialmente tranquila, com a empresa mantendo sua estratégia disciplinada de alocação de capital”, avaliou o BBI.
O JPMorgan ressaltou o desdobramento positivo para a Vale por várias razões: (a) a discussão sobre o CEO criou um obstáculo, introduzindo incertezas sobre a nova liderança. Esta incerteza agora está resolvida; (b) mais importante, Pimenta é amplamente conhecido e respeitado pelos investidores.
Olhando para o futuro, o BBI avalia que os investidores buscarão mais visibilidade sobre um possível acordo relacionado ao acidente de Mariana — que deve ser visto como o próximo evento de redução de risco para a história da Vale. O BBI manteve a recomendação de compra para VALE3, sendo negociada a um atraente múltiplo EV/Ebitda (valor da firma/lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) de 4 vezes para 2024, mesma recomendação do JPMorgan.
O Itaú BBA também aponta que uma substituição interna reduz a probabilidade de mudanças significativas na estratégia da empresa e acelera as negociações em andamento com o governo (por exemplo, Mariana, concessões ferroviárias e licenças), questões que devem estar entre as principais prioridades de Pimenta. “Não esperamos mudanças significativas na estratégia”, avalia a equipe do BBA. Do ponto de vista operacional, o novo CEO provavelmente se concentrará em melhorar a confiabilidade do sistema Norte, aponta o banco, que também possui recomendação equivalente à neutra para as ações.
A Genial, que possui recomendação de compra para VALE3, também entende que o nome de Gustavo Pimenta deve refletir ventos favoráveis para as ações da Vale, afastando de vez a perspectiva de conectar o governo ao cargo de CEO. Além disso, trata-se de um nome já conhecido dentro da companhia e no setor, não só percebido com (i) uma blindagem a pressões externas do ponto de vista político, como também (ii) não será um outsider para as tomadas de decisões da Vale, uma vez que ele próprio era o responsável pela alocação de capital da companhia, funções atribuídas ao cargo de CFO.
“Segundo o nosso entendimento, Pimenta já conhece os ativos da Vale e os projetos de expansão em curso (Capanema, MegaHubs e Vargem Grande) e sabe do papel da companhia na transição enérgica, com a VBM (níquel e cobre) e os briquetes verdes tendo função fundamental nos próximos anos dentro da descarbonização da indústria siderúrgica”, avalia Genial, ressalta que o futuro CEO entrega a Vale em uma nível de alavancagem responsável, com decisões consideradas assertivas para o capex da companhia durante seus quase 3 anos de gestão como CFO.
O UBS BB também afirmou ver o anúncio como positivo, avaliando que o executivo foi “arquiteto-chave da alocação de capital disciplinada e turnaround operacional da Vale nos últimos anos”. Para os analistas, conforme relatório a clientes, há potencial para que questões ESG importantes, como o caso da Samarco, possam ser resolvidas em breve.
(com Reuters)