Cenario Rural

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Resultados da 4ª Prova de Leite a Pasto no DF são apresentados em conferência virtual

Realizada pelo Centro de Tecnologias para Raças Zebuínas Leiteiras (CTZL) da Embrapa Cerrados (DF), em parceria com a Associação dos Criadores de Zebu do Planalto (ACZP), a 4ª Prova Brasileira de Produção de Leite a Pasto do Zebu Leiteiro teve os resultados apresentados no dia 16 de setembro, por meio de conferência com os participantes pela internet.

prova zootécnica teve como objetivo identificar, em um grupo de animais contemporâneos, matrizes que, em 305 dias de lactação em pasto rotacionado com suplementação, se destacarem nos atributos de interesse econômico: produção de leite, reprodução, idade ao parto, qualidade do leite, persistência de lactação e na avaliação morfológica, comprovando assim o potencial genético para a produção de leite a pasto em ambiente de Cerrado do Brasil Central. Assista ao vídeo de apresentação do CTZL e da prova.

Realizada entre novembro de 2018 e dezembro de 2019, a prova contou com a participação de 13 novilhas da raça Gir Leiteiro de nove criatórios do Distrito Federal e de Goiás, nascidas entre julho de 2014 e setembro de 2016. A divulgação dos resultados havia sido adiada em função da pandemia do novo coronavírus.

Metodologia

A pesquisadora Isabel Ferreira apresentou a metodologia utilizada na condução da prova, que teve duração de 13 meses, sendo dois (novembro e dezembro de 2018) de adaptação dos animais e 11 de mensuração da lactação. Os partos ocorreram em janeiro e fevereiro de 2019, sendo então mensurada toda a lactação.

Durante a prova, as novilhas são mantidas em uma área de 13 hectares com pastagem de Brachiaria brizantha BRS Piatã, em dois módulos de oito piquetes de 0,7 hectares cada. “Nesses módulos, fazemos o manejo rotacionado. A cada dois dias, os animais da prova permanecem em pastejo no lote ponta e os demais animais do CTZL fazem o repasse para ajuste de altura do pós-pastejo. Iniciamos com a forragem na altura de 30 e 35 cm e, na saída de pós-pastejo, de 15 cm”, explicou Isabel.

A pesquisadora detalhou o manejo alimentar dos animais na fase de adaptação (capim BRS Piatã e 2 kg de concentrado) e após o parto (volumoso, concentrado, sal mineral e água à vontade); e o manejo nutricional e sanitário dos bezerros. Para a avaliação da produção e a qualidade do leite, as novilhas foram ordenhadas mecanicamente duas vezes ao dia com a presença do bezerro ao pé, sem o uso de ocitocina ou outros medicamentos e fármacos para indução da lactação.

Segundo a pesquisadora, o controle leiteiro foi realizado mensalmente, conforme as normas do PMGZ Leite, da ABCZ: “Uma vez ao mês, o leite era pesado, sendo que as vacas eram secadas no dia anterior. Uma amostra era retirada para análise da composição do leite, com teores de gordura, proteína e sólidos, e da qualidade, com a contagem de células somáticas”. As amostras foram encaminhadas ao laboratório de qualidade do leite da Universidade Federal de Goiás.

Por meio de análise laboratorial, as novilhas foram genotipadas para os alelos A1 e A2 da proteína do leite beta-caseína. Segundo estudos médicos, a beta-caseína A2 é menos alergênica para o ser humano que a variante A1. Também foi analisada a persistência da lactação, que é o cálculo da porcentagem média de manutenção da produção de leite após o pico. “Esta é uma característica interessante e que buscamos melhorar nos animais zebuínos: alta produção de leite e manutenção da produção após o pico da lactação”, apontou Isabel.

Isabel também falou sobre o manejo da reprodução (os animais pariram no CTZL), da sanidade e da conformação animal, este último realizado pelo técnico Fábio Mizziara, da ABCZ, e que obedeceu a uma pontuação para aparência geral (20 pontos); forma, volume e tetos do úbere (30); garupa (15); tórax (15); aprumos (10) e características raciais (10), totalizando 100 pontos.

A partir das avaliações, foi calculado, para cada animal, o índice fenotípico geral, que pondera dos principais fatores de importância econômica para uma novilha de características equilibradas. Dessa forma, as características e respectivos pesos que compõem o índice são a produção de leite (40%); a reprodução (15%), na qual se avalia o intervalo de tempo entre o parto e a próxima concepção; a idade ao parto (5%), que verifica a precocidade do animal; teor de gordura no leite (5%) e teor de proteína no leite (5%), componentes sólidos remunerados pelos laticínios; escore de células somáticas do leite(5%), sendo que quanto menor o número, melhor é a qualidade; conformação racial do animal (10%); e persistência da lactação (15%).

Os animais melhor colocados foram classificados em elite (pontuação acima de 50% além da média do grupo, considerando o valor de 100%) e superior (pontuação até 50% acima da média do grupo).

Resultados

O superintendente técnico da ACZP, Marcelo Toledo, detalhou os resultados de cada novilha participante da prova. Ele agradeceu à participação dos criadores: “É extremamente importante ter o apoio dos produtores para que consigamos dar sequência a este trabalho”, ressaltou.

Dos 13 animais inscritos, 11 se classificaram. Toledo mostrou as tabelas com a classificação dos animais em cada um dos fatores que compõem o índice fenotípico geral. Também mostrou uma tabela com a bonificação para teores de gordura e proteína e para contagem de células somáticas do leite com base na remuneração estipulada pela Cooperativa Central dos Produtores Rurais de Minas Gerais (CCPR) para a produção do leite durante a lactação em 2016, com valores corrigidos pelo IGP-M para dezembro de 2019.

Na genotipagem dos animais para os alelos A1 e A2 da beta-caseína, 10 novilhas foram identificadas com genótipo homozigoto A2A2, o que significa produção de leite A2, menos alergênico. Somente a novilha Aroeira (Registro Genealógico Definitivo ALDF 154) é A1A2.

O pesquisador Carlos Frederico Martins, coordenador da prova, apresentou a classificação final dos animais pelo índice fenotípico. Ele informou que, a partir dos resultados obtidos nesta edição da prova, foi gerado um documento técnico.

A grande vencedora foi a novilha Laranja (AAPO 142), do criador Anselmo José de Azevedo, do Distrito Federal, que com o índice fenotípico geral de 172,5% foi classificada como elite. Laranja também foi primeira colocada nos fatores conformação racial (18,2% acima da média) e produção de leite (3.913,5 kg durante os 305 dias de lactação, 75,9% acima da média do grupo), sendo a remuneração com bonificação da produção durante a lactação estimada em R$ 4.990,67 para dezembro de 2019. A segunda colocada foi Caiana (HNC 605), de Hamilton de Carvalho, produtor em Luziânia (GO), com índice de 154,7%, também classificada como elite.

Outras quatro novilhas obtiveram índice fenotípico geral entre 100 e 150% e foram classificadas como superiores: PH Emília (PHPO 602), de Paulo Horta Barboza da Silva (DF), com 122%; Babilônia (HC 566), com 110,8% e Brahma (HC 596), com 107,5%, ambas de Hamilton de Carvalho; e Omala (ZIP 512), de Emilio de Castro (Uruana, GO), com 102,1%.

Martins reforçou o convite aos criadores para participarem da 6ª Prova Brasileira de Produção a Pasto do Zebu Leiteiro do CTZL, que começará a receber os animais participantes no dia 26 de outubro, e salientou os benefícios da prova zootécnica. “Nesta edição, teremos a predição genômica para a produção de leite e idade ao primeiro parto pela ABCGIL, além da possibilidade de leilão virtual das fêmeas melhor classificadas por meio da parceria com a ACZP”, informou.

O pesquisador pediu apoio aos criadores para o fortalecimento da prova: “As provas são realizadas para os criadores, assim como as informações geradas. Nosso trabalho é reforçado se vocês participam, se envolvem e enviam seus animais. Quanto mais animais, mais informações podemos obter de forma científica para que vocês possam utilizar os resultados para os seus sistemas de criação”, finalizou.

Criadores comemoram

Dono da novilha vencedora da 4ª edição, Anselmo José de Azevedo revelou orgulho de falar sobre a prova, da qual foi um dos incentivadores. “Considero-a de extrema importância para a seleção do zebu no Brasil, especialmente do Gir Leiteiro, que é a raça que crio. Os animais são submetidos ao manejo nutricional e de ordenha padronizado e são provados junto com outros animais de grandes criatórios do País, havendo uma grande pressão de seleção, que nos ajuda demais em nossa seleção em casa”.

“A prova é importantíssima para nós, criadores, melhor selecionarmos nossos animais em regime de pasto em nossas propriedades”, disse Hamilton de Carvalho, que cria Gir Leiteiro e Girolando a pasto. Já para Emílio de Castro, a prova no CTZL veio a calhar. “Era tudo o que eu esperava para tirar dúvidas sobre o desempenho dos meus animais em relação a outros, em condições de manejo comuns nas fazendas de produção de leite, sem artificialismos. Os resultados me mostram que não estou muito distante, que meu programa (de seleção) é válido. Sinto-me estimulado a continuar”, afirmou.

Produtor pioneiro na seleção genética da raça Gir Leiteiro no Distrito Federal, Paulo Horta, saudou os realizadores e os participantes pelo sucesso da prova, destacando sua importância. “Esta é a verdadeira avaliação do Gir que, sendo raça zebuína, tem que ser utilizado no que é importante em nossa região intertropical, com produção a pasto e avaliação dos animais mais completos, permitindo cruzamentos para obter Girolando e Girsey de melhor qualidade”, afirmou.

Parceria

A prova contou com a parceria da Belo Arames e da Associação para o Fomento à Pesquisa de Melhoramento de Forrageiras (Unipasto), e do apoio da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), da Associação Brasileira dos Criadores de Sindi (ABC Sindi), da Associação Brasileira dos Criadores de Gir Leiteiro (ABCGIL), da Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite), da Universidade de Brasília, da Universidade Federal de Goiás, da Emater-DF, do Sindicato dos Criadores de Bovinos, Bubalinos e Equídeos do Distrito Federal, da Federação da Agricultura e Pecuária do Distrito Federal, da Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento e Desenvolvimento Rural do Distrito Federal e da Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba (Emepa – Gestão Unificada).

O chefe-adjunto de Transferência de Tecnologia da Embrapa Cerrados, Carlos Eduardo Santos, ressaltou a importância da prova, cuja quinta edição está em realização e a sexta já está recebendo inscrições de animais. Ele também destacou a parceria com a ACZP e demais associações de criadores, o que tem viabilizado a execução das provas. “Isso mostra que esse elo da cadeia produtiva, dos produtores organizados, é capaz de produzir benefícios para toda a cadeia”, afirmou, agradecendo também ao apoio das demais instituições e empresas. “Mas o grande parceiro é o produtor rural, que traz a sua demanda, participa e contribui para os resultados”, finalizou, cumprimentando os criadores participantes da prova.

Marcelo Toledo representou o presidente da ACZP, Franco Couto de Oliveira. Ele agradeceu à Embrapa pela oportunidade de manter a parceria há quase seis anos, bem como aos criadores de raças zebuínas de aptidão leiteira participantes da prova. “É uma honra muito grande poder fazer parte desse processo, dada a importância dos resultados produzidos no CTZL em termos de evolução da pecuária de produção de leite a pasto”, afirmou.

Claudio Karia, chefe-geral da Unidade, salientou que a apresentação dos resultados da prova não poderia deixar de ser realizada, devido à importância do trabalho. “É uma parceria público-privada com todos os atores dos segmentos comercial, da produção, das associações. Dessa forma, conseguimos captar as necessidades dos produtores e resolver ou minimizar muitos dos problemas por meio do conhecimento científico, que é o nosso negócio”, disse.

Karia lembrou que a prova realizada no CTZL é uma das poucas no País que trabalha com lactação completa dos animais, em sistema a pasto de Integração Lavoura-Pecuária. “Os resultados são idôneos, isentos. Procuramos ter o máximo de cuidado na aquisição e na análise dos dados”, apontou.

Prestes a deixar a chefia da Unidade, ele agradeceu aos realizadores, participantes e parceiros da prova e pediu a continuidade do apoio para fortalecer a pecuária do Cerrado. “Sem o apoio de todos, não conseguiríamos realizar todas essas provas. Peço que continuem nos apoiando e, também, nos cobrando soluções e mostrando quais são, de fato, os problemas para que possamos captá-los e repassar as soluções aos produtores. Se forem temas novos, que os coloquemos em nossa programação e façamos a pesquisa, se possível, junto com vocês para trazer as soluções mais adequadas para todos”, concluiu, parabenizando os vencedores da prova.

Fonte: Embrapa

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