O Brasil ocupa o posto de terceiro maior produtor mundial de frutas, com uma diversidade impressionante de variedades tropicais e uma produção anual estimada em mais de 45 milhões de toneladas. Ainda assim, apenas cerca de 3% dessa produção é destinada ao mercado internacional. Esse paradoxo foi o centro dos debates da segunda edição da Fruit Attraction São Paulo, realizada entre os dias 25 e 27 de março de 2025.
Mais de 15 mil visitantes de 15 países passaram pelos estandes da feira, que reuniu 300 expositores com foco em frutas frescas, secas e processadas. O evento foi palco para discussões sobre os desafios e as oportunidades para a fruticultura brasileira no comércio exterior. Segundo especialistas, a qualidade e o sabor das frutas nacionais têm potencial para competir com grandes exportadores como Espanha, Chile e África do Sul.
Barreiras Logísticas e Infraestrutura Defasada
Apesar do reconhecimento internacional, produtores brasileiros ainda enfrentam barreiras logísticas significativas. A infraestrutura portuária limitada, o custo elevado do transporte interno e a falta de acesso a armazéns refrigerados são entraves recorrentes. Esses fatores comprometem a regularidade e a competitividade das exportações.
A adoção de tecnologias agrícolas e de rastreabilidade ainda é desigual entre os polos produtores. Enquanto regiões como o Vale do São Francisco já utilizam sistemas de monitoramento climático e irrigação inteligente, outras áreas ainda carecem de acesso a conectividade e assistência técnica adequada.
Potencial de Expansão com Sustentabilidade
Um dos destaques da feira foi o apelo crescente por práticas sustentáveis. Frutas certificadas com selos como GlobalG.A.P. e Rainforest Alliance ganham preferência em mercados exigentes como o europeu. O Brasil, que possui propriedades com alta biodiversidade, pode se beneficiar dessas exigências, desde que invista em capacitação e monitoramento ambiental.
A ampliação dos mercados-alvo também foi tema central. Além da Europa, importadores do Oriente Médio e do Sudeste Asiático mostraram forte interesse em frutas como manga, mamão, uva e abacate. A demanda por frutas exóticas, orgânicas e com apelo funcional cresce nesses mercados em ritmo acelerado.
Frutas com Maior Potencial de Exportação
Entre as frutas com maior potencial de internacionalização estão a uva de mesa, a manga, o melão, o limão e o abacate. A capacidade de armazenagem, durabilidade e a aceitação sensorial dessas variedades as tornam mais viáveis para longas distâncias e exigências logísticas internacionais.
Alguns expositores destacaram a integração entre a fruticultura e o turismo rural como estratégia de valorização territorial. O turismo enogastronômico tem ganhado força e pode agregar valor à produção local, conectando o consumidor à origem dos produtos e fortalecendo a identidade regional.
Apoio Governamental Ainda Insuficiente
Representantes do setor cobraram maior apoio institucional, como linhas de crédito para exportação, subsídios logísticos e campanhas de promoção da marca “Frutas do Brasil” no exterior. Iniciativas pontuais existem, mas a ausência de um plano nacional integrado de exportação ainda é uma barreira.
A Fruit Attraction São Paulo mostrou que o Brasil tem todas as condições para se tornar uma potência exportadora de frutas. No entanto, para transformar potencial em realidade, será necessário investir em infraestrutura, tecnologia, sustentabilidade e promoção comercial. O mundo está pronto para consumir frutas brasileiras — basta o país se organizar para entregar.
Fontes: El País, Abrafrutas, CNA, Ministério da Agricultura, Fruit Attraction São Paulo