Aplicação de fungo em pó acrescido de produtos adjuvantes é realizado por drone e elimina o ‘Amblyomma sculptum’ sem afetar flora, fauna e pessoas
Jundiaí (SP) – Um grupo de pesquisadores do Instituto Biológico de São Paulo (IBSP), e do Centro de Engenharia e Automação do Instituto Agronômico de Jundiaí (CEA-IAC), ambos da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de SP, está próximo de anunciar uma nova tecnologia para barrar o avanço da febre maculosa. A doença, tida como a mais mortal das Américas – cerca de 50% das pessoas que a contraem, morrem – desafia a ciência há décadas.
O estudo é conduzido pelos pesquisadores Fernanda Calvo Duarte, Leonardo Costa Fiorini e Márcia Cristina Mendes, do Instituto Biológico da capital, José Eduardo Marcondes de Almeida, do IB-Campinas e Hamilton Ramos, do CEA de Jundiaí. Integram o trabalho, ainda, profissionais da empresa de tecnologia VOA, especializada no desenvolvimento e na prestação de serviços com drones agrícolas.
Conforme Ramos, também coordenador dos programas de Tecnologia de Aplicação e Adjuvantes da Pulverização, iniciativas da Secretaria de Agricultura e Abastecimento de SP com o setor privado, o alvo do estudo é o carrapato Amblyomma sculptum, vetor da Rickettsia rickettsii, patógeno causador da febre maculosa. A doença é endêmica em áreas do Estado de SP e outras da região Sudeste. O hospedeiro do transmissor da doença é a capivara (Hydrochoerus hydrochaeris), maior roedor do mundo, cuja população se mostra crescente nas áreas urbana e rural do Brasil.
Segundo os pesquisadores, o controle eficaz e sustentável do carrapato é a única maneira de barrar a febre maculosa, ou ainda de reduzir casos da doença. A tecnologia em estudo foca na aplicação do fungo Metharizium anisopliae nas áreas públicas e privadas em que a população de capivaras é elevada. Como este fungo, avaliado nos laboratórios do IBSP, tem na estrutura predominante a forma de pó, sendo pouco solúvel em água, a pesquisa analisa resultados da associação entre o pó e os adjuvantes agrícolas, tendo em vista viabilizar tecnicamente a pulverização de áreas-alvo do tratamento.
“Adjuvantes são produtos químicos empregados nas aplicações de defensivos agrícolas. Cada insumo do gênero apresenta características específicas, como adesionante, espalhante e outras”, continua Ramos. “A associação entre o pó e adjuvante, segundo avaliamos, facilita a aplicação do fungo e o controle eficaz do carrapato transmissor da febre maculosa”, reforça Ramos.
“O modelo de controle em desenvolvimento, além de eficiente, é altamente sustentável. A aplicação do fungo, segundo observamos, mata o carrapato sem afetar a flora, a fauna e as pessoas presentes no entorno”, continua Ramos.
Em relação ao emprego de drones, os pesquisadores explicam que o equipamento potencializa a precisão da aplicação e facilita o manejo nas áreas-alvo de tratamento com menor dimensão, como praças e parques públicos. Ainda de acordo com o grupo de pesquisadores reunido no estudo, uma vez concluída a viabilidade desse conceito de combate ao carrapato, outras técnicas de pulverização do fungo atrelada a adjuvantes agrícolas passarão a ser estudadas.
“Estamos muito próximos de converter o conjunto de ensaios numa nova tecnologia de ponta, capaz de auxiliar na diminuição da incidência dessa doença altamente fatal no Brasil”, finaliza Hamilton Ramos.
Fonte:Bureau