A criação de abelhas é uma atividade consagrada desde os primórdios da civilização humana, que utilizou o mel como primeiro adoçante da história, e também como bebida alcoólica, após sua fermentação. Além do uso da própolis, no antigo Egito, para embalsamar as múmias e da cera para confecção de velas.
A criação racional de abelhas melíferas, conhecida como apicultura, é essencial para a agricultura, segurança alimentar e ainda para a biodiversidade, pois desempenham papel relevante na polinização de muitas plantas silvestres, bem como de plantas cultivadas, aumentando a produtividade e qualidade de frutos e sementes. Além deste “serviço”, prestado de forma gratuita ao ecossistema, a atividade apícola fornece vários produtos: o mel, o pólen e a geleia real, utilizados como alimento; a própolis, como antisséptico natural; a apitoxina, utilizada no tratamento e prevenção de doenças; e a cera, na indústria alimentícia, laboratorial, apícola e de artesanato.
O mel, quando extraído de acordo com os padrões de qualidade (MAPA, Instrução Normativa 11, 2000), é alimento rico em carboidratos, minerais, enzimas e outros compostos que atuam como antioxidantes (combatendo radicais livres), expectorante, anti-inflamatório, cicatrizante, podendo prevenir desde gengivites, doenças cardíacas, até alguns tipos de cânceres (BADOLATO et al., 2017).
Analisando dados de produção, o último levantamento da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), em 2017, aponta o Brasil como 12º maior produtor mundial de mel, com produção de 41.594 toneladas. Essa quantidade, porém, representa apenas 1,71% da produção mundial. Mesmo sendo o quinto maior país do mundo em território, sua produção é muito baixa, assim como a produtividade média, 15 kg/colmeia/ano, quando comparada ao México (25 kg) ou à Argentina (35 kg). Verificando as Regiões brasileiras, é possível perceber acentuado desequilíbrio, porém, grande potencial. A maior parte da produção nacional é proveniente das regiões sul e sudeste, estando o Rio Grande do Sul em destaque, com 6.284 toneladas/ano; aproximadamente 15% da produção nacional (IBGE, 2019). Além dos fatores ambientais, o destaque do Rio Grande do Sul na apicultura nacional se deve à organização da cadeia produtiva do mel. O referido estado apresenta 37 mil apicultores, produtividade média de 18 kg/colmeia/ano e consumo per capita quatro vezes maior que a média nacional. Ainda assim é baixo, porque, em média, cada brasileiro consome 60 gramas de mel por ano, enquanto que os europeus consomem, em média, mais de 1,0 kg.
A população brasileira culturalmente utiliza pouco mel, pois o considera um remédio e, desta forma, a cadeia produtiva torna-se dependente da exportação. Segundo a ABEMEL (Associação Brasileira dos Exportadores de Mel), 65,04% da produção nacional são destinados à exportação.
No estado do Tocantins, os registros da atividade apícola praticamente acompanham a sua criação. Em 1990, foi criada a Associação de Apicultores do Bico do Papagaio (ABIPA), em 1997, a Associação de Apicultores de Nova Olinda (AAPINO) e a Federação Tocantinense de Apicultura (FETOAPI). Atualmente existem aproximadamente 1300 apicultores distribuídos em duas cooperativas e 53 associações. A produção de mel no estado é consideravelmente pequena, registrando 73,6 toneladas em 2017, o que representa 0,17% da produção nacional. Se dividirmos esta média pela quantidade de apicultores cadastrados, teremos, no ano, produção média de 56,60 kg de mel por apicultor.
O período de safra no estado geralmente ocorre entre os meses de abril a outubro, atrelado à baixa incidência pluviométrica. Ou seja, mesmo com mais de meio ano propício à produção, o Tocantins apresenta produtividade de 13 kg/colmeia/ano, valor abaixo da média nacional.
Como alternativa para melhor aproveitamento da área verde do estado e consequente preservação como fonte de recurso para as abelhas ao longo do ano, a ampliação e o fortalecimento das associações merecem destaque. Por exemplo, a cidade tocantinense com maior produção de mel é Nova Olinda, que através da sua associação de apicultores apresenta aproximadamente, 11,5% da produção estadual.
Mesmo o estado não tendo tradição na apicultura, esta cadeia produtiva merece ser estimulada de várias formas, como já podemos perceber: na educação ambiental trabalhada nas creches, nas escolas e nos institutos; através da capacitação técnica, da Câmara Setorial da Apicultura, do programa Compra Direta, entre outros. É importante salientar, além disso, a necessidade de controle rígido da distribuição e da aplicação de insumos à base de neonicotinóides, fipronil e outros nocivos aos insetos de vida livre, que afetam sobremaneira as abelhas. Deste modo, naturalmente ocorrerá o desenvolvimento da atividade e ampliação da tímida expressividade em relação ao cenário nacional.
Referências bibliográficas:
– BODOLATO, M. et al. From the hive: Honey, a novel weapon against cancer. European Journal of Medicinal Chemistry. 142, p.290-299. 2017
– IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Séries Históricas e Estatísticas: Produção de origem animal – quantidade produzida. Disponível em: https://seriesestatisticas.ibge.gov.br/series.aspx?vcodigo=PPM2&t=producao-origem-animal-quantidade-produzida. Acesso em 11 de abril de 2019.
– FAO, Food and Agriculture Organization of the United Nations. FAOSTAT: Livestock Primary. Disponível em: http://www.fao.org/faostat/en/#data/QL Acesso em 11 de abril de 2019.
Rômulo Augusto Guedes Rizzardo
Zootecnista, Mestre e Doutor em Zootecnia
Professor da Universidade Federal do Tocantins – Campus de Araguaína
Áreas de atuação: Apicultura, Manejo de Animais Silvestres, Entomologia Zootécnica.
E-mail: rizzardo@uft.edu.br
Thiago Rodrigues de Castro
Mestre em Zootecnia
Zootecnista da Universidade Federal do Tocantins – Campus de Araguaína
E-mail: castrotr@uft.edu.br