Com falecimento do primeiro pontífice latino-americano, líderes mundiais revisitam sua herança política, diplomática e moral. Silêncio das potências rivais e ausência de consenso revelam mundo mais fragmentado do que quando seu papado começou.
Comoção Global e Omissões Estratégicas
Desde o anúncio do falecimento do Papa Francisco, ocorrido no dia 23 de abril, uma série de manifestações políticas têm tomado forma ao redor do mundo. Líderes como Emmanuel Macron (França), Alberto Núñez Feijóo (Espanha) e Lula da Silva (Brasil) publicaram declarações emocionadas, ressaltando o papel do pontífice como defensor da paz, do diálogo inter-religioso e da justiça social.
No entanto, o silêncio — ou a cautela — de líderes como Vladimir Putin e Xi Jinping foi notado nos bastidores diplomáticos. Especialistas apontam que, embora Francisco fosse crítico do imperialismo e da cultura de descarte do Ocidente, sua atuação em temas como direitos humanos, minorias religiosas e migração colocavam-no em oposição indireta a regimes autoritários.
Pontificado Político: Francisco e a Reinvenção Geopolítica do Vaticano
Mais do que líder espiritual, o Papa Francisco atuou como uma figura política de relevância global. Suas visitas a campos de refugiados na Europa, as viagens ao Iraque e à África, a crítica contundente à cultura do lucro em detrimento da dignidade humana e o enfrentamento do negacionismo climático fizeram do seu pontificado um campo de tensões diplomáticas com diferentes setores ideológicos.
Nos EUA, sua crítica ao capitalismo financeiro e às políticas migratórias de Donald Trump dividiram o episcopado americano. No Brasil, sua aproximação com a Teologia da Libertação e com os povos indígenas da Amazônia o tornaram símbolo de resistência para uns e alvo de suspeita para outros.
Velório Silencioso e Fila de Quatro Horas em Roma
A Basílica de São Pedro amanheceu tomada por fiéis. Mais de 120 mil pessoas passaram pelo local em menos de 24 horas, em silêncio absoluto. Uma fila de mais de quatro horas de espera se formou até o túmulo provisório do pontífice, que será enterrado sob o altar da Basílica. O vice-presidente dos EUA, J.D. Vance, que se reuniu com o Papa dias antes de sua morte, classificou o encontro como “um sinal de sorte” e minimizou diferenças ideológicas.
Legado: Fim da Era dos Pontífices Globais?
O Papa Francisco representou o último grande esforço do Vaticano para ser ator diplomático universal em um mundo cada vez mais multipolar e ideologicamente fragmentado. A dúvida que paira agora é se seu sucessor terá força institucional para manter essa relevância — ou se a Igreja Católica irá se retrair diante das novas guerras culturais, geopolíticas e tecnológicas.
O conclave será não apenas uma escolha de líder religioso, mas uma batalha simbólica pela alma do mundo pós-pandêmico, polarizado e em crise de referências morais.
Fontes: BBC, Reuters, Vatican News, El País, CNN, Associated Press, Folha de S.Paulo
