Cenario Rural

Menor Área Plantada nos EUA e Demanda por Farelo Elevam Expectativas Globais

safra-soja

Mercado futuro reage positivamente com cenário americano de redução na oferta, avanço do farelo e crescimento da demanda asiática. Brasil acompanha com cautela, mas exportações devem ganhar tração.

Chicago Sinaliza Nova Tendência Altista 

O mercado da soja encerrou o dia 22 de abril em alta na Bolsa de Chicago, impulsionado por uma combinação de fundamentos técnicos e expectativas macroeconômicas. O contrato de maio subiu 6,50 pontos, fechando a US$ 10,36 por bushel. Essa valorização reflete a crescente preocupação com a redução da área plantada nos Estados Unidos e o fortalecimento da demanda global por farelo de soja, com destaque para o Sudeste Asiático e a União Europeia.

Menor Plantio nos EUA: Estratégia ou Risco?

Relatórios preliminares indicam que a área dedicada ao plantio de soja nos Estados Unidos será cerca de 3,8% menor do que em 2024. O motivo é a preferência dos agricultores pelo milho, incentivados por contratos vinculados à indústria de etanol e por incentivos tributários estaduais. Estados como Iowa, Illinois e Nebraska reportam redução significativa nas intenções de plantio da oleaginosa, o que pode comprometer a oferta global no segundo semestre.

Adicionalmente, a previsão climática para o Meio-Oeste americano projeta um trimestre com chuvas irregulares e temperaturas acima da média, o que eleva o risco de perdas na fase inicial de desenvolvimento das lavouras.

Farelo em Alta e Estoques Globais em Níveis Técnicos

Outro fator relevante é o aumento da demanda por farelo de soja, subproduto utilizado na nutrição de aves, suínos e peixes. O farelo teve valorização de 2,1% na semana anterior, puxado por importações maiores por parte de Indonésia, Filipinas e Espanha. A recomposição de estoques nas indústrias de nutrição animal também pressiona os contratos futuros, criando uma perspectiva altista sustentada para os próximos 60 dias.

O Brasil, em plena colheita da safra 2024/25, observa o mercado externo com otimismo moderado. Em Paranaguá, a saca da soja avançou para R$ 134, refletindo a valorização internacional e a alta do dólar, que fechou a semana em R$ 5,94. Exportadores brasileiros já registram um aumento de 9,3% nos pedidos internacionais na terceira semana de abril, com destaque para embarques destinados à China e Bangladesh.

Na Argentina, a situação é mais complexa. A produção sofreu impacto das chuvas excessivas no cinturão central e do encarecimento dos insumos. Estima-se que o país colha cerca de 35 milhões de toneladas — abaixo da média histórica. Com isso, a soja brasileira pode ocupar parte do espaço deixado no mercado internacional.

China e Geopolítica: Guerra Tarifária Reconfigura as Rotas Comerciais

A guerra tarifária entre EUA e China também favorece o Brasil. Pequim já anunciou que ampliará as compras de soja de países “estrategicamente neutros”, e o Brasil aparece como principal candidato. As tarifas americanas sobre produtos chineses, somadas à retaliação de Pequim, criam distorções no comércio agrícola global e reposicionam a América do Sul como eixo alternativo de fornecimento.

Especialistas indicam que o Brasil pode, inclusive, capturar parte do mercado de farelo atualmente dominado pelos EUA e por países do Mar Negro. A ABIOVE (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais) projeta um crescimento de 11% nas exportações de derivados da soja em 2025 se esse cenário se consolidar.

Logística e Capacidade de Processamento São os Próximos Desafios

Apesar do momento favorável, a capacidade de escoamento e processamento ainda impõe limitações à competitividade brasileira. A infraestrutura dos portos do Arco Norte enfrenta gargalos operacionais, e a rede de esmagamento de soja precisa ser expandida para atender à demanda crescente por farelo e óleo refinado.

Empresas como Bunge, Louis Dreyfus e Caramuru já anunciaram investimentos em novas plantas de processamento nos estados do Pará, Maranhão e Goiás. O objetivo é reduzir a dependência das exportações de grão in natura e capturar maior valor agregado na cadeia.

Perspectiva Altista com Alerta Climático e Logístico

A combinação entre queda na oferta dos EUA, aumento na demanda global por farelo e reconfiguração das rotas comerciais cria uma oportunidade real para o Brasil se consolidar como fornecedor global de soja e seus derivados. No entanto, fatores como clima, logística e capacidade industrial serão decisivos para que o país aproveite o momento e transforme esse ciclo de preços em vantagem competitiva duradoura.

Fontes: CME Group, AgResource, USDA, Cepea, ABIOVE, Canal Rural, Bloomberg Agro, Notícias Agrícolas

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