A guerra entre Rússia e Ucrânia, que se arrasta desde 2022, transformou profundamente o comércio agrícola internacional. Estudos recentes demonstram que as redes de exportação e importação de grãos como trigo, milho e arroz foram drasticamente alteradas, afetando a segurança alimentar de dezenas de países e exigindo uma adaptação urgente dos mercados.
Trigo: A Commoditie Mais Afetada
De acordo com relatório publicado no arXiv, o trigo é a cultura mais impactada pelo conflito. Juntas, Rússia e Ucrânia respondiam por cerca de 30% das exportações mundiais do grão antes da guerra. A destruição de silos, bloqueios navais no Mar Negro e sanções econômicas obrigaram importadores como Egito, Líbano e países do Sahel a buscar fornecedores alternativos.
Milho e Arroz Também Sofrem
Embora em menor escala, milho e arroz também foram afetados. O milho ucraniano, crucial para alimentação animal na Europa, teve sua oferta drasticamente reduzida. Já o arroz sofreu reajustes indiretos devido à substituição de fontes de energia e alimentos básicos nos países em crise.
O conflito desencadeou uma série de efeitos em cadeia: aumento de preços, especulação em bolsas de commodities, maior dependência de países como Brasil, Estados Unidos e Argentina, e dificuldades logísticas para exportação de grãos e insumos. Esses fatores criaram volatilidade e incerteza duradouras nos mercados globais.
Organizações internacionais como FAO e PMA (Programa Mundial de Alimentos) intensificaram programas de apoio a países vulneráveis. A União Europeia liberou estoques estratégicos e os EUA ampliaram rotas de transporte para amenizar os impactos da ruptura nas cadeias tradicionais de abastecimento.
A Nova Geopolítica dos Alimentos
A guerra acelerou a mudança no eixo do comércio agrícola mundial. Países do Sul Global, antes apenas fornecedores, passaram a ocupar papel mais estratégico, sendo alvo de acordos bilaterais, investimentos logísticos e presença crescente de grandes tradings internacionais.
Exportadores como o Brasil têm sido beneficiados com o aumento da demanda externa, especialmente por milho e trigo. No entanto, a pressão por sustentabilidade e rastreabilidade aumentou, exigindo do agro brasileiro maior planejamento e adaptação às exigências dos novos compradores.
Ameaça à Segurança Alimentar
O conflito ressaltou a vulnerabilidade da segurança alimentar global frente a crises geopolíticas. Países dependentes de importação de alimentos estão revendo suas estratégias, investindo em produção local e em estoques reguladores, prevendo possíveis novos choques no abastecimento.
Caminhos para a Estabilidade
Especialistas sugerem a criação de novos corredores de exportação, diversificação de fornecedores e fortalecimento de acordos multilaterais como medidas para estabilizar o comércio agrícola. A digitalização e o uso de IA na previsão de riscos também ganham destaque nas discussões internacionais.
A guerra na Ucrânia vai muito além dos limites geográficos do conflito. Seus reflexos no comércio agrícola global continuarão sendo sentidos nos próximos anos. Para os produtores e exportadores do agro, compreender essa nova dinâmica geopolítica é essencial para posicionar-se estrategicamente em um mundo em transformação.
Fontes: arXiv.org, FAO, PMA (Programa Mundial de Alimentos), Reuters, Bloomberg, Financial Times, USDA, OCDE