A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) lançou um alerta preocupante: apesar dos avanços promovidos pela globalização na redução dos custos dos alimentos e na ampliação da diversidade nutricional, o consumo de ultraprocessados tem aumentado de forma alarmante em todo o mundo — especialmente em países em desenvolvimento.
A globalização tornou alimentos baratos e acessíveis, mas também disseminou padrões de consumo pouco saudáveis. Produtos industrializados ricos em açúcares, gorduras saturadas e sódio, como refrigerantes, salgadinhos, biscoitos e refeições prontas, têm se tornado mais comuns do que frutas, hortaliças e grãos integrais nas prateleiras dos mercados.
Aumento da Obesidade em Países Vulneráveis
Segundo dados da FAO, mais de 2 bilhões de pessoas em todo o mundo estão com sobrepeso, sendo que a prevalência de obesidade está crescendo mais rapidamente nos países de baixa e média renda. Pequenos Estados insulares, nações da América Latina e África vêm registrando índices alarmantes de doenças metabólicas ligadas à alimentação.
A expansão das cadeias de distribuição global levou à substituição de dietas tradicionais por produtos ultraprocessados importados. Essa transformação ameaça culturas alimentares locais, reduz a soberania nutricional e contribui para a homogeneização de hábitos alimentares prejudiciais à saúde.
Marketing Agressivo e Regulação Fraca
A FAO destaca ainda que o marketing agressivo das grandes indústrias alimentícias, aliado à baixa regulação governamental, facilita a penetração desses produtos em comunidades vulneráveis. Crianças e adolescentes são os mais impactados, pois estão mais expostos à publicidade e carecem de orientação nutricional.
O Papel da Indústria e dos Governos
Para reverter esse cenário, a FAO propõe que governos adotem políticas públicas mais rígidas, como taxação de bebidas açucaradas, rotulagem nutricional clara, regulação da publicidade infantil e subsídios para alimentos frescos. Também é necessário o engajamento da indústria alimentícia em reformular produtos e apoiar práticas mais saudáveis.
Alguns países têm adotado medidas bem-sucedidas. O Chile, por exemplo, implementou alertas visuais nos rótulos de produtos ultraprocessados, reduzindo o consumo de refrigerantes entre jovens. No Brasil, o novo Guia Alimentar para a População Brasileira também recomenda evitar esses produtos e priorizar alimentos in natura.
A Importância da Educação Alimentar
Além das políticas públicas, a FAO defende o investimento em educação alimentar desde a infância. Escolas, comunidades e famílias precisam ser envolvidas na construção de hábitos alimentares saudáveis, com valorização da cultura local e do preparo caseiro dos alimentos.
O combate aos ultraprocessados exige uma articulação internacional. A organização pede que a segurança alimentar seja pensada além do acesso calórico, contemplando qualidade nutricional, sustentabilidade dos sistemas alimentares e preservação das culturas alimentares.
A globalização transformou o acesso aos alimentos, mas também abriu caminho para um novo tipo de insegurança alimentar: o excesso de calorias de baixa qualidade. O alerta da FAO é um chamado urgente para governos, indústria e sociedade civil repensarem a forma como nos alimentamos em um mundo globalizado.
Fontes: FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura), El País, OMS, Ministério da Saúde do Brasil, Guia Alimentar para a População Brasileira
