Por Carla Mendes
A segunda maior safra da história dos EUA. É isso que os produtores norte-americanos deverão colher nesta temporada 2020/21, de acordo com a estimativa do USDA (Departamento de Agricultura dos EUA) trazida nesta quarta-feira (12). A projeção é de 120,43 milhões de toneladas. No reporte anterior, o estimado eram pouco mais de 116 milhões. O aumento vem, essencialmente, de um desenvolvimento muito bom das lavouras norte-americanas durante esse ano.
Os campos americanos de soja, ainda de acordo com dados do departamento americano, estão em sua grande maioria em boas ou excelentes condições e, também por isso, foi que o USDA revisou também sua estimativa de produtividade para a oleaginosa. O rendimento esperado passou de 55,81 para 59,73 sacas por hectare.
O que chama a atenção não são os números do USDA, mas a resiliência do produtor americano. Desde o início da guerra comercial entre China e Estados Unidos, a dinâmica do comércio global de soja mudou drástica e profundamente, mudando parâmetros importantes há décadas estabelecidos e tirou uma fatia grande da soja dos EUA da importante e forte demanda chinesa.
Desde o final de 2018, a nação asiática – que é a maior compradora de soja do globo – voltou quase a totalidade de suas compras para o Brasil. Enquanto registramos vendas antecipadas recordes, os americanos acumulam estoques, buscam atrair outros compradores e dependendo de pacotes de ajuda do governo Donald Trump. E assim, mais mudanças foram se enraizando no coração da produção americana.
Afinal, embora a China esteja comprando mais frequentemente nos EUA nos últimos meses dada a falta de oferta disponível no Brasil, ainda se vê o sojicultor americano estrangulado, com seus níveis de endividamento crescendo e sem perspectivas efetivas de mudança. Especialistas afirmam, inclusive, que nem mesmo que Trump perca as eleições e entregue a cadeira ao democrata Joe Biden as relações com Xi Jinping serão plena – e mais importante, rapidamente – restabelecidas.
Enquanto isso, a temporada brasileira 2020/21 será de renovação do recorde, com uma safra de soja que pode vir a superar as 130 milhões de toneladas. Aumento de área teremos, investimentos também, agora é acendermos cada um sua vela para São Pedro e torcer para dar tudo certo. Já comercializamos mais de 40% dessa safra que começaremos a semear no mês que vem. Os sojicultores poderão registrar seu maior ganho nominal desde o nascimento do Plano Real.
E ainda de acordo com analistas e consultores de mercado, as compras chinesas seguem fortes pela soja da nova safra brasileira e a tendência é de que se aqueçam ainda mais na medida em que a oferta for se mostrando disponível e chegando efetivamente.
E se você acha pouco, te digo que Mato Grosso, de acordo com dados do Imea (Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária), já vendeu mais de 1% da sua safra 2021/22. Sim, você leu corretamente: SAFRA 2021/22.
Carla Mendes é coordenadora de jornalismo do Cenário Rural, editora chefe do Notícias Agrícolas e especializada em agronegócio, com foco no complexo soja.
Fonte: Cenário Rural