Dados recentes revelam que a Espanha deixou de figurar entre os dez maiores produtores mundiais de frutas e hortaliças. O país caiu para a 11ª posição no ranking global, perdendo espaço para nações como Indonésia, Egito e Ucrânia. Até 2020, a Espanha ocupava a 8ª colocação, sendo uma referência consolidada no setor hortifrutícola.
Essa queda tem implicações diretas no comércio agrícola europeu. Como principal exportador de frutas frescas da União Europeia, a Espanha vê sua participação nos mercados internacionais ameaçada. A redução de produtividade, provocada por mudanças climáticas e restrições hídricas, compromete a capacidade de manter volumes competitivos.
Clima e Escassez de Água em Foco
Especialistas apontam que a maior razão para o declínio é a intensificação dos eventos climáticos extremos, sobretudo as secas prolongadas no sul do país. Regiões como Andaluzia e Múrcia, grandes polos produtores, vêm enfrentando restrições severas de irrigação, o que afeta a produtividade e a qualidade dos cultivos.
Além das questões internas, o crescimento da produção em países emergentes tem ampliado a concorrência global. Indonésia e Egito, por exemplo, expandiram suas áreas irrigadas com apoio estatal e tecnologia acessível, ganhando eficiência e escala. Já a Ucrânia, mesmo em guerra, aproveita sua fertilidade natural para avançar na exportação de vegetais e frutas silvestres.
Custo de Produção em Alta
Outro fator que prejudica a competitividade espanhola são os custos elevados de energia, insumos e mão de obra. A inflação persistente na Europa aumentou os preços de fertilizantes e combustíveis, ao mesmo tempo em que as exigências ambientais tornaram os processos produtivos mais onerosos.
A política agrícola comum (PAC) e os acordos verdes da União Europeia também impõem restrições que, embora bem-intencionadas do ponto de vista ambiental, dificultam a capacidade de resposta rápida dos produtores frente a crises climáticas ou de mercado. A transição agroecológica tem custos que nem todos os produtores conseguem absorver.
Perda de Espaço em Mercados Estratégicos
Com a queda na produção, alguns importadores têm buscado fornecedores alternativos. Países como Marrocos e Turquia, com climas semelhantes e custos mais baixos, estão ampliando suas exportações para a União Europeia, especialmente no setor de frutas de caroço e hortaliças frescas.
Reação do Setor Produtivo
Entidades agrícolas espanholas, como a COAG e a ASAJA, têm pressionado o governo por maior flexibilização na gestão de água, subsídios emergenciais e incentivos à modernização tecnológica. A expectativa é evitar um desmonte da cadeia produtiva e conter a evasão de jovens do campo.
A recuperação da posição da Espanha no ranking dependerá de investimentos em irrigação eficiente, pesquisa em variedades resistentes ao calor e políticas de apoio à pequena e média agricultura. Sem essas medidas, o país corre o risco de perder protagonismo num setor vital para sua balança comercial.
A queda da Espanha no ranking de produção de frutas e hortaliças serve de alerta para toda a Europa. Diante de um cenário global competitivo e climático instável, garantir resiliência e inovação será crucial para manter o campo europeu produtivo e relevante.
Fontes: Huffington Post Espanha, Ministério da Agricultura da Espanha, COAG, ASAJA, Eurostat, FAO, El País