O dólar disparou na quarta-feira, não apenas rompendo a resistência técnica de 5,50 reais como passando a flertar com 5,60 reais, num dia de fortalecimento generalizado do dólar em meio a temores sobre a economia global
O movimento no câmbio doméstico teve como pano de fundo preocupações com o cenário para o fluxo cambial e recorrentes receios sobre a trajetória fiscal do país –ambos num contexto de juro não atrativo. O dólar à vista saltou 2,18%, a 5,5876 reais na venda, quarta alta consecutiva e maior patamar de fechamento desde 26 de agosto (5,6124 reais). Na máxima, a cotação bateu 5,595 reais, alta de 2,32%. O Banco Central não interveio no mercado com venda de dólares. A última vez que o BC atuou de maneira mais incisiva no câmbio foi na segunda quinzena de agosto, quando o dólar oscilava perto dos atuais patamares. “O que tenho dificuldade de entender é a torcida do Banco Central para o câmbio se estabilizar ao invés de subir uma barreira em algum preço, uma vez que ele já está contaminando a inflação e isso pode tirar o carro dos trilhos”, comentou Luiz Fernando Alves, sócio do Fundo Versa. A onda de risco no exterior afeta o câmbio doméstico num momento de fragilidade no campo fiscal, e o cenário para o próximo trimestre deverá seguir sendo de alta volatilidade, avalia o Barclays, que vê o câmbio com desempenho inferior a seus pares até dezembro. Mesmo depois de alguma trégua no começo de 2021, analistas do banco projetam que o real voltará a sofrer com as incertezas locais. A disparada do dólar nesta sessão ocorreu a despeito de dados melhores das contas externas. O Brasil registrou superávit em transações correntes pelo quinto mês seguido em agosto, levando o déficit em 12 meses ao menor patamar desde junho de 2018, mas o câmbio contratado segue exibindo fortes saídas de recursos, especialmente na conta financeira –por onde passam fluxos para portfólio, empréstimos, remessas, entre outros. Apenas na semana passada, o país perdeu na conta financeira 2,880 bilhões de dólares, elevando o déficit em setembro para 3,066 bilhões de dólares. No ano, o rombo chega a impressionantes 50,714 bilhões de dólares. “Uma performance melhor do real depende bastante da diminuição de saídas pelo segmento financeiro”, disse Sergio Goldenstein, consultor independente e estrategista na Omninvest Independent Insights e ex-chefe do Departamento de Operações de Mercado Aberto do Banco Central. Outros mercados brasileiros sentiram o baque da fuga de risco. As taxas de juros de longo prazo negociadas na B3 tiveram um rali de mais de 10 pontos-base, e o principal índice das ações brasileiras caiu 1,5%, indo abaixo de 96 mil pontos.
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Fonte:REUTERS