O recrudescimento das tensões comerciais entre Estados Unidos e China em 2025 tem provocado uma reconfiguração significativa no mercado global de grãos. Com a imposição de novas tarifas e sanções mútuas, o Brasil emerge como principal fornecedor de soja para o gigante asiático, ampliando sua participação no comércio internacional da commodity.
Segundo dados do Ministério da Agricultura e da Secex, das 22,8 milhões de toneladas de soja exportadas pelo Brasil no primeiro trimestre de 2025, 17,7 milhões foram destinadas à China — um salto de 21% em relação ao mesmo período do ano anterior. A substituição da soja norte-americana pela brasileira tem sido estratégica para os chineses, que buscam reduzir a dependência dos EUA em meio às instabilidades políticas.
Guerra Tarifária em Escalada
A nova rodada de tarifas sobre produtos agrícolas norte-americanos, especialmente soja, milho, algodão e carne suína, foi anunciada por Pequim como resposta a sanções comerciais impostas por Washington no início de março. A medida afetou diretamente os agricultores do Meio-Oeste americano, que perderam competitividade frente aos preços mais acessíveis da soja brasileira.
Com clima favorável e colheita antecipada no Centro-Oeste, o Brasil conseguiu garantir volumes consistentes e preços atrativos. A taxa de câmbio acima de R$ 5,00 também favorece as exportações, tornando o produto brasileiro ainda mais competitivo. Além disso, avanços logísticos em portos como Itaqui (MA) e Barcarena (PA) reduziram o tempo de escoamento.
Riscos Geopolíticos Permanecem
Apesar do crescimento nas exportações, analistas alertam para os riscos geopolíticos associados à concentração de vendas em um único país. A dependência excessiva da China pode se tornar um problema caso haja mudança de política comercial ou nova crise diplomática. A diversificação de mercados segue sendo uma estratégia necessária.
O aumento das exportações tem pressionado os estoques internos, elevando os preços pagos ao produtor nas principais regiões. Em Mato Grosso, a saca de 60 kg já é negociada entre R$ 116 e R$ 122, dependendo da localidade. Indústrias de esmagamento voltadas ao mercado interno enfrentam dificuldades para garantir matéria-prima.
Nos Estados Unidos, representantes do agronegócio pressionam o Congresso por medidas compensatórias. Há também apelos por uma reabertura das negociações com a China, uma vez que o setor agrícola é um dos pilares da balança comercial americana. Enquanto isso, traders buscam redirecionar parte das cargas para Europa e Ásia Central.
Logística Brasileira Posta à Prova
O crescimento das exportações também revelou gargalos logísticos no Brasil. Filas nos portos, estradas danificadas e escassez de armazéns têm encarecido o frete. Entidades do setor defendem novos investimentos em infraestrutura multimodal para sustentar o crescimento com eficiência.
Se a tensão entre as duas potências persistir, o Brasil pode bater recordes históricos de exportação até o final do ano. Estimativas da Anec apontam para a possibilidade de embarques superiores a 100 milhões de toneladas, caso as condições climáticas e logísticas se mantenham favoráveis.
A disputa comercial entre Estados Unidos e China abriu uma janela de oportunidades para o agronegócio brasileiro, especialmente na soja. No entanto, a sustentabilidade dessa vantagem dependerá de planejamento estratégico, diversificação de mercados e investimentos em infraestrutura. O momento é promissor, mas requer cautela e visão de longo prazo.
Fontes: Ministério da Agricultura, Secex, Anec, Reuters, Valor Econômico, Bloomberg, Notícias Agrícolas