Dados do USDA indicam queda nas importações chinesas de dois dos principais produtos agroexportadores americanos. Decisão estratégica de Pequim amplia mercado para Brasil e pressiona produtores dos EUA.
Soja e Suínos em Queda: China Muda o Jogo
Relatórios recentes do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) mostram uma redução significativa nas importações chinesas de soja e carne suína em relação ao mesmo período de 2024. As compras de soja caíram 24%, enquanto as de carne suína tiveram retração de 31% no primeiro quadrimestre de 2025.
A queda é atribuída a múltiplos fatores: tensões políticas e tarifárias entre Pequim e Washington, reconfiguração dos fluxos logísticos globais e busca por novos parceiros comerciais menos expostos a sanções e instabilidade diplomática.
Guerra Comercial em Escalada e Reação Chinesa
Desde que os EUA anunciaram o aumento de tarifas sobre produtos chineses — com índices que chegam a 245% em alguns setores —, a China vem respondendo com ajustes estratégicos em sua política de compras externas. A redução nas aquisições de produtos agropecuários dos EUA é vista como retaliação indireta, mas eficaz, atingindo estados americanos fortemente dependentes do agronegócio para gerar empregos e receita.
A medida também é interpretada como parte da estratégia da China de diminuir a dependência alimentar de um único fornecedor e fortalecer sua segurança alimentar com parceiros alternativos.
Brasil e América do Sul Ganham Espaço
A reconfiguração do mercado internacional favorece diretamente o Brasil, que já ocupa a liderança no fornecimento de soja para a China. Exportadores brasileiros registraram crescimento de 18% nos embarques para o país asiático no primeiro trimestre deste ano. Além disso, a carne suína brasileira, que já contava com protocolos sanitários atualizados, foi impulsionada por novos certificados fitossanitários e acordos logísticos facilitados.
Argentina e Paraguai também observam aumento nas consultas comerciais por parte de empresas chinesas, o que pode acelerar a entrada de novos players sul-americanos no fornecimento de proteína animal e oleaginosas.
Impacto no Setor Produtivo dos EUA
Nos EUA, entidades como o National Pork Producers Council e a American Soybean Association já manifestaram preocupação com a perda de participação no mercado chinês, estimando perdas que ultrapassam US$ 1,5 bilhão em contratos apenas nos primeiros meses do ano. Agricultores do Meio-Oeste têm pressionado congressistas por uma solução diplomática que restabeleça o fluxo comercial.
Com a aproximação das eleições presidenciais americanas, o tema pode ganhar força como questão central no debate rural — especialmente em estados-chave como Iowa, Illinois e Missouri.
Geopolítica Redefine o Agro Global — E o Brasil Precisa Jogar com Inteligência
A redução das compras chinesas dos EUA é mais um capítulo da guerra comercial em curso, mas também um alerta: o comércio agrícola tornou-se um campo geopolítico de alta voltagem. Para o Brasil, a oportunidade é real, mas exige estratégia comercial sólida, segurança jurídica, consistência sanitária e agilidade logística.
O momento é promissor, mas não permite amadorismo. O novo mapa do agro mundial está sendo redesenhado — e os países que souberem ocupar os espaços deixados por gigantes terão vantagem decisiva nos próximos anos.
Fontes: USDA, Bloomberg, SCMP, CNA, MAPA, Valor Econômico, Reuters