Os preços de soja e milho deverão seguir em patamares elevados no próximo ano, com um aperto na oferta impulsionando as margens de agricultores, mas desafiando produtores de carnes do Brasil, notadamente do setor de frango, e aqueles que fazem confinamento bovino, disseram analistas do Itaú BBA na terça-feira.
Essa situação de alta nos grãos –usados como matéria-prima para a ração– que deverá continuar em 2021, leva a uma preocupação para a indústria de proteínas animais. Do lado das commodities agrícolas, a China continua realizando firmes compras de soja, reduzindo o excedente exportável dos Estados Unidos, enquanto o Brasil (maior produtor e exportador global do grão) lida com um clima irregular que já atrasou o plantio. A bolsa de Chicago atingiu recentemente os maiores valores em mais de quatro anos, próximos de 12 dólares por bushel, impulsionado por temores quanto à oferta da safra sul-americana. No mercado de milho, a história é semelhante à da soja. Ele disse que não há muito “espaço para que os preços caiam até a entrada da segunda safra do Brasil”, quase na metade do ano que vem, quando chega a maior colheita brasileira do cereal. No caso da indústria de frango, a alta do produto foi insuficiente para fazer frente ao custo com a ração, o que fez com que o resultado das granjas ficasse negativo em meio a preços recordes da soja e do milho. O consultor de Agronegócios do Itaú BBA, César de Castro Alves, disse ainda que a avicultura sofreu o impacto da queda do petróleo, que afetou a demanda por carnes do Oriente Médio, grande importador de aves do Brasil. “Então a exportação não foi capaz de segurar o setor, e no mercado doméstico os preços ficaram defasados em relação ao dianteiro bovino e a carne suína”, comentou. “Ou o setor aumenta os volumes de exportação no próximo ano, ou o ideal seria reduzir um pouco a produção para fazer frente aos custos elevados”, disse ele. Para os segmentos de carne bovina, a situação é um pouco melhor, mas há riscos relacionados aos altos custos dos bezerros enquanto pecuaristas retêm fêmeas diante de preços recordes da arroba bovina. “A gente enxerga uma possível continuidade desse quadro no próximo ano, isso faz com que produtores segurem as fêmeas, e no final do dia isso significa menos ofertas para frigoríficos”, afirmou. Para o ano que vem e para o próximo, acrescentou, o desafio do pecuarista vai ser fazer com que “bezerro caro” não encontre um boi gordo desvalorizado, o que pode comprimir margens do produtor. O especialista citou ainda que, para a indústria, a situação atual é diferente da vista no ano passado, quando havia mais espaço para repasses de preço da carne no mercado interno. Para o setor de carne suína, os embarques recordes em 2021, que devem atingir 1 milhão de toneladas, deixam o setor no positivo. De acordo com Alves, a forte demanda da China, que busca recompor a oferta afetada pela peste suína africana, “construiu um ambiente de elevação de preços que gerou margens espetaculares”. Segundo ele, o setor de suínos deve aumentar a produção em 5%, enquanto as exportações estão crescendo 40% no ano.
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Fonte: Reuters