Resistente, produtivo e adaptado ao clima quente, o canéfora (robusta e conilon) começa a ocupar territórios antes dominados pelo arábica e traz novo fôlego à cafeicultura paulista.
Expansão Silenciosa, Impacto Relevante
Tradicionalmente concentrado no Espírito Santo e em Rondônia, o café canéfora começa a se expandir com força pelo interior de São Paulo. Regiões como Alta Mogiana, Franca e Araras, antes exclusivamente produtoras de arábica, estão testando e validando cultivares de conilon adaptadas ao clima local.
As mudanças climáticas e a ocorrência de veranicos têm tornado o cultivo do arábica mais arriscado em determinadas altitudes. O conilon, por sua vez, mostra-se mais tolerante a altas temperaturas, à seca e a pragas, o que o torna estratégico frente à instabilidade do clima.
Produtividade e Preço Atraem Produtores
A produtividade do canéfora chega a ser o dobro da média do arábica por hectare. Além disso, com a crescente demanda por cafés solúvels e de blends, o conilon encontra um mercado garantido, inclusive para exportação. Esses fatores têm atraído produtores em busca de maior segurança econômica.
Instituições como o Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e a APTA têm desenvolvido cultivares mais produtivas, com melhor qualidade de bebida e maior resistência a estresses hídricos. As mudas clonais e o espaçamento adensado aceleram a formação das lavouras e reduzem custos.
Mudanças no Perfil da Mão de Obra
A mecanização, mais acessível no cultivo de conilon em terrenos planos, também atrai produtores paulistas. Essa transição tem reduzido a dependência de mão de obra sazonal e facilitado a gestão das propriedades.
Empresas torrefadoras e exportadoras têm sinalizado interesse em cafés canéfora rastreáveis e produzidos com boas práticas ambientais. Isso impulsiona projetos de certificação e estimula a adoção de tecnologias sustentáveis, como fertirrigação e sombreamento.
Convivência com o Arábica e Diversificação de Riscos
Em vez de substituir completamente o arábica, o canéfora vem sendo adotado como cultura complementar. Essa diversificação ajuda os produtores a diluir riscos climáticos e de preço, mantendo competitividade mesmo em anos de instabilidade.
A logística de secagem, beneficiamento e escoamento do conilon ainda representa um desafio para produtores paulistas. Muitos deles dependem de estrutura compartilhada ou precisam adaptar armazéns e equipamentos.
A formação de técnicos e extensionistas especializados em conilon é vista como estratégica para sustentar a expansão da cultura em novas regiões. Cursos, dias de campo e assistência digital têm sido promovidos por instituições como a CATI e o Senar-SP.
Uma Nova Fronteira para o Café Brasileiro
A ascensão do café canéfora em São Paulo marca uma transformação silenciosa, mas significativa, na cafeicultura nacional. O sucesso dessa transição dependerá de apoio técnico, infraestrutura adequada e de um mercado que valorize a diversidade da produção cafeeira.
Fontes: IAC, APTA, MAPA, Conab, Embrapa Café, CNA, CECAFÉ, FAESP, CATI, Senar-SP, Revista Cafeicultura Sustentável, Canal Rural, Globo Rural