A Bunge, uma das maiores multinacionais do agronegócio global, está passando por um dos períodos mais desafiadores de sua história recente. Apesar de seu papel central no comércio e processamento de grãos, especialmente soja, a companhia vem registrando queda de lucros, retração no valor de mercado e dificuldades estratégicas em meio a um cenário econômico e geopolítico volátil.
Em seu último relatório trimestral, a Bunge apresentou redução de 12,6% no lucro líquido em relação ao mesmo período do ano anterior. A desaceleração na demanda global por farelo e óleo de soja, aliada à instabilidade nas margens de refino de biocombustíveis, impactou diretamente o resultado da companhia, sobretudo nas operações das Américas.
Biodiesel: Promessa que Ainda Não se Cumpre
A aposta da empresa nos biocombustíveis, especialmente biodiesel, ainda não trouxe o retorno esperado. Questões regulatórias nos Estados Unidos e Europa, além de queda no preço do petróleo, tornaram o segmento menos atrativo no curto prazo. A Bunge agora revisa sua estratégia nesse campo, buscando parcerias mais sólidas e inovação em bioenergia.
A guerra na Ucrânia e os embargos comerciais contra a Rússia afetaram rotas logísticas e fluxos de commodities. Como operadora global, a Bunge foi diretamente impactada, tendo que redirecionar embarques e renegociar contratos. As sanções também dificultaram negociações no Mar Negro, região estratégica para o escoamento de grãos.
Concorrência Crescente na América do Sul
Empresas brasileiras e chinesas vêm ganhando terreno na América do Sul, mercado tradicionalmente dominado por gigantes como a Bunge e a Cargill. A maior presença de cooperativas locais, além da verticalização da produção em países como Brasil e Argentina, tem acirrado a competição e reduzido margens.
Em resposta aos desafios, a Bunge vem focando na digitalização de suas operações, rastreabilidade de cadeias produtivas, investimentos em agricultura regenerativa e expansão de parcerias com startups do agro. O objetivo é manter competitividade e atender à crescente demanda por práticas sustentáveis nos mercados internacionais.
Participação em Mercados Emergentes
A empresa também tem voltado seus olhos para mercados em expansão como Índia, Sudeste Asiático e África Ocidental. Essas regiões, com crescimento populacional e aumento no consumo de proteína animal, representam oportunidades para o fornecimento de ração e óleo vegetal.
Analistas de mercado projetam uma recuperação modesta para o segundo semestre de 2025, caso os preços das commodities se estabilizem e as tensões comerciais diminuam. No entanto, o cenário ainda é incerto e depende de fatores externos como clima, política energética e recuperação econômica global.
O Papel da Governança Corporativa
A Bunge também anunciou mudanças em sua diretoria executiva, reforçando o compromisso com práticas de governança e transparência. O objetivo é reconquistar a confiança de investidores e alinhar as decisões estratégicas com uma visão de longo prazo.
A situação da Bunge é um retrato das complexidades do agronegócio global em 2025. Mesmo sendo uma potência consolidada, a companhia precisa se reinventar diante das transformações geopolíticas, ambientais e tecnológicas. O desafio é enorme, mas o setor aguarda com atenção os próximos movimentos desse gigante da soja.
Fontes: El País, Bloomberg, Reuters, Valor Econômico, Financial Times, Relatórios de Sustentabilidade da Bunge, USDA