O Paraná sediará uma nova usina de biogás, que também será a primeira central de saneamento rural do Brasil. O empreendimento da Mele, empresa alemã, será construído em Toledo, no Oeste do Estado, e receberá, em sua primeira etapa, R$ 77,5 milhões de investimento.
Com a proposta de potencializar a transformação de dejetos da suinocultura em energia, biocombustível e fertilizantes, a pedra fundamental do empreendimento foi lançada nesta quinta-feira (19/9), em um encontro entre o vice-governador Darci Piana e a presidente do Conselho Federal Alemão, Manuela Schwesig, em Curitiba. O lançamento foi acompanhado por vídeo por representantes da empresa e agricultores de Toledo.
Segundo a Agência Estadual de Notícias do Paraná, os recursos da primeira etapa virão de investidores e financiamento do Banco Mundial, além de ser acompanhado pela Organização das Nações Unidas (ONU), devido às suas características inovadoras e ambientalmente sustentáveis. A planta de Toledo servirá de modelo para outras unidades que serão instaladas na região e ficará em uma área de 43 mil metros quadrados.
Usina
De acordo com estimativas da empresa, o tratamento correto dos dejetos nas usinas têm o potencial de evitar 2 milhões de toneladas de CO2 por ano, o equivalente a 2,7% às emissões do Paraná e 0,5% de tudo que é emitido pelo Brasil anualmente.
Somente a usina de Toledo, que é a primeira de 45 usinas previstas para serem implantadas na região Oeste até 2031, evitará a emissão de 52 mil toneladas de CO2 por ano.
A empresa já possui todas as licenças ambientais para a construção da planta e firmou um acordo com a Verra, organização sem fins lucrativos responsável pelo controle da maior carteira de créditos de carbono do mundo.
Empresas nacionais, como a Petrobras, e empresários de outros países demonstraram interesse no projeto e nas oportunidades de compra de créditos de carbono para compensação de suas próprias emissões, mesmo antes do início da obra de construção.
Feita com base em uma tecnologia desenvolvida no estado alemão de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental, onde Manuela Schwesig é governadora, a estrutura resolverá um grande passivo ambiental dos produtores da região – uma das principais produtoras de suínos do Estado -, com a redução das emissões de dióxido de carbono.
O projeto também garantirá a manutenção dos recursos hídricos pela economia de água e o fim da contaminação do solo e lençóis freáticos por dejetos da suinocultura.
“Com esse projeto, conseguimos demonstrar que a agricultura também pode contribuir com a eficiência energética ao trabalhar com um material que ninguém quer, transformando-o em um ativo econômico”, declarou a presidente do Conselho Federal Alemão. “Em Toledo, iniciamos uma experiência que pode ser ampliada para outras regiões do Paraná com o uso de uma tecnologia que foi desenvolvida em nosso estado”, acrescentou Manuela.
Inovação
A Alemanha, e em especial a região de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental, é pioneira na implementação de biodigestores em propriedades rurais. Por meio dessa tecnologia, pequenos e médios produtores de suínos e bovinos utilizam instalações de digestão anaeróbica para tratar os dejetos e produzir biogás, convertendo-o em biometano para ser injetado na rede de gás natural ou utilizando-o para gerar energia elétrica e térmica nas próprias fazendas.
No caso da planta de Toledo, a parte líquida dos dejetos será transportada por redes de gasodutos até a central única de saneamento, enquanto a parte sólida será coletada por caminhões com o mesmo destino, englobando 52 propriedades rurais.
Esse material servirá inicialmente como matéria-prima para a produção de biometano e CO2, mas a empresa já planeja uma futura ampliação para também produzir metanol, que é amplamente usado na produção do biodiesel e de outras cadeias.
Atualmente, 100% do metanol consumido no Brasil é importado de outros países, por isso a expectativa é de que esse empreendimento também ajude o Paraná e o país a reduzirem a sua dependência do mercado externo e, por consequência, os custos de uso do biocombustível.
A estimativa da Mele é de que, após a conclusão de todo o cronograma do projeto, a região Oeste do Estado consiga produzir o equivalente a 6 mil barris de petróleo por dia na forma de biocombustível.
Parceria
O empreendimento conta com a parceria do governo do Estado por meio de vários órgãos, entre eles as secretarias da Agricultura e Abastecimento e da Fazenda, e os institutos de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR), Água e Terra (IAT) e Invest Paraná. Os órgãos têm apoiado a aprovação das regulamentações necessárias para viabilizar as atividades no Estado e também pela concessão de incentivos fiscais e tributários por meio dos programas Renova Paraná e Paraná Competitivo.
O projeto-piloto de Toledo integra uma iniciativa maior dos alemães denominada Programa Oeste Sustentável, ou ainda Green Fuels Paraná, focada em aliar o desenvolvimento social dos pequenos produtores a práticas mais sustentáveis. A meta é tratar e transformar cerca de 60% do passivo ambiental da cadeia de produção da suinocultura do Estado, o que também representa 10% da produção brasileira nesse segmento.
“Além de resolvermos um problema ambiental sério que temos para a destinação destes dejetos, esse projeto significa mais recursos financeiros aos nossos produtores, que poderão ampliar suas atividades, o que também ajuda no crescimento econômico do Estado”, afirmou o vice-governador.
A iniciativa também tem o apoio do BMWK (Ministério Federal para Assuntos Econômicos e Proteção Climática) alemão. O presidente do Grupo Mele, Dietrich Lehmann, além de outros membros do governo e do consulado alemão, empresários, investidores e outros representantes do setor produtivo do país europeu acompanharam a reunião.
Suinocultura
Com grande influência da região Oeste do Estado, o Paraná é atualmente o vice-líder nacional na produção de carne suína. Entre janeiro e junho deste ano, 6,2 milhões de porcos foram abatidos para abastecer o mercado interno e externo, o que representa um crescimento de 37% em relação aos 4,6 milhões de abates realizados no mesmo período de 2019.
Em todo o Brasil, o volume total de suínos abatidos chegou a 28,6 milhões nos seis primeiros meses de 2024. Com isso, a participação do Paraná no resultado nacional, que era de 20% há cinco anos, chegou a 22% neste ano.
Fonte: Globo Rural