Na semana passada, em meio a preocupações com a trajetória fiscal e atento ao cenário internacional, o dólar acumulou valorização de 4,32%
A volatilidade do câmbio no Brasil só é influenciada de maneira relevante pelo diferencial de juros interno e externo quando essa distância é menor do que 3,3%, segundo estudo da MCM Consultores. Acima desse patamar, a relação é “praticamente nula”. “Nossos resultados sugerem que a volatilidade cambial alta e persistente que caracterizou uma boa parte de 2020 pode se dever à forte queda da taxa de juros básica, que se refletiu num diferencial de juros ineditamente pequeno”, escreve o economista Vitor Kayo, autor do estudo. Ao longo de 2020, a taxa básica Selic passou de 4,25% ao ano para 2%, o que explica praticamente toda a diferença menor em relação a anos anteriores. “No exterior, os juros já estavam em praticamente zero”, diz. Para construir o modelo, o economista usou o risco-país do Brasil e de outros países emergentes e o Commodity Research Bureau (CRB), entre outras variáveis. “Os resultados do modelo revelam que a relação entre volatilidade cambial e diferencial de juros interno e externo depende do nível em que o diferencial de juros se encontra”, escreve Kayo. O estudo aponta que esse diferencial é de aproximadamente 3,3% ao ano, quando medido pelo swap de 360 dias e o título de um ano do Tesouro americano. Abaixo desse patamar, quando a diferença cai um ponto percentual, a volatilidade aumenta em 0,96 na comparação com o desvio padrão anualizado. Nas ocasiões em que o diferencial está em patamar igual ou superior a 3,3% ao ano, a relação quase não existe, segundo Kayo. “Desde o início da pandemia, o câmbio teve idas e vindas enormes”,afirma. Ele lembra que a volatilidade também teve picos durante o processo de impeachment de Dilma Rousseff e a divulgação da conversa do ex-presidente Michel Temer com o empresário Joesley Batista. “Agora, mesmo que o real tenha cedido, ela continua alta, apesar de estar abaixo do início da pandemia.” No entanto, o debate sobre as razões para os movimentos bruscos do câmbio segue controverso. Em boa parte do ano passado, o próprio Banco Central (BC) vinha mostrando preocupação com o tema – embora não tenha chegado a um diagnóstico preciso. Em julho, por exemplo, o BC testava quatro hipóteses principais para explicar o fenômeno: aumento dos minicontratos no volume total de transações; mudanças na legislação de “overhedge”; participação maior de robôs de investimentos; e possível proximidade entre Selic e “lower bound”, um limite efetivo para novos cortes da taxa básica. Três meses depois, o Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, atribuiu a volatilidade a “um pouco de incerteza fiscal, um pouco de ruídos internos e um pouco de juros baixos”. Para ele, a tendência era o movimento diminuir se o Brasil mostrasse compromisso com reformas e o ajuste fiscal.
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Fonte:VALOR ECONÔMICO