O sistema de terminação de bovinos em confinamento ganhou espaço ao longo dos anos. Afinal, este sistema permite o aumento expressivo na produção de @/ha/ano da propriedade, servindo também como manejo estratégico para aumento de lotação total da fazenda e liberação de pasto em épocas decisivas, maximizando a produção.
Porém, para obter sucesso nessa estratégia de produção é preciso muita eficiência, visto que existe custo com estruturas, maquinários, insumos alimentares e de animais. Todos esses custos associados ao confinamento nos deixam com margens apertadas para trabalhar, exigindo uma execução perfeita, sem margem para erros, para que o lucro almejado seja alcançado.
O primeiro passo é planejar! Colocar no papel os objetivos e resultados a serem atingidos com essa técnica é fundamental e isso inclui: a compra de animais e insumos, formulação de dieta, projeção de estruturas e definição de rotinas. O segundo passo é tirar tudo isso do papel e seguir para a execução das ações planejadas. E, por fim, partir para a avaliação dos resultados do confinamento.
Para saber se estamos ganhando dinheiro com o confinamento, precisamos entender quais custos impactam na produção.
Entender os custos gerais do confinamento
Ao analisar os custos que compõem um confinamento, sabemos que por volta de 4,1% representam os custos fixos (mão de obra, depreciações, manutenção, energia elétrica, telefone, internet, combustíveis, entre outros), 6,87% são os custos com a renda dos fatores (remuneração do capital de giro, do capital fixo e da terra), e por fim, 89,03% são custos variáveis (compra de animais, alimentação, manejo sanitário, manejo de identificação, outros custos variáveis e impostos variáveis).
Os custos variáveis são distribuídos conforme o gráfico abaixo:
Adaptado: Sartorello 2016
No gráfico, podemos ver que o maior custo de produção num sistema de confinamento é com a compra de animais, seguido pela alimentação. O que podemos concluir com isto? Primeiramente é que precisamos comprar bem os animais e os insumos. Depois, o segundo fator mais importante a ser considerado é o de aproveitar ao máximo esses dois recursos. Para isso temos alguns pontos importantíssimos para analisar:
Investimento na alimentação
Percebemos que a alimentação tem uma influência significativa nos custos de produção. Porém, sabemos que também possui papel fundamental no aumento de produtividade. Sendo assim, investir na alimentação que traga aumento de produtividade ajuda a diluir os outros custos entre as @ produzidas, permitindo que cada @ saia mais barata no final do período.
Neste sistema, entretanto, não pode haver erros e cada detalhe precisa ser acompanhado. Desta forma, investir em uma nutrição de precisão é primordial! Ou seja, fornecer ao animal exatamente o que ele necessita para o GMD esperado, sem desperdícios ou falta.
Na etapa de planejamento do confinamento vimos que precisamos projetar a dieta a ser utilizada, quantidade de animais e objetivo de peso ao abate almejado. Agora é hora de acompanhar e verificar se o que foi proposto está sendo executado.
A dieta formulada precisa ser devidamente pesada, misturada e fornecida aos animais, para que eles possam consumir a nutrição que foi pensada e formulada pelo nutricionista. Por isso, é preciso se atentar diariamente ao aspecto do alimento que está sendo fornecido e o que sobra no cocho. A avaliação do alimento oferecido define a qualidade da mistura, dos ingredientes e se o tamanho das partículas está ideal.
A avaliação das sobras também é importante e nos mostra como está o consumo e se há seleção de alimentos pelos animais. Ela pode ser realizada logo cedo, no momento da leitura de cocho.
Importante: é preciso ter atenção no Núcleo Mineral que compõe a dieta, pois este deve atender as exigências de minerais dos bovinos confinados. Por isso, aposte em núcleos que se adéquam à propriedade.
Outro fato que potencializa a produção é a utilização de aditivos que atuam na melhoria da eficiência alimentar, no aumento de ingestão de matéria seca, na melhora da saúde ruminal e na prevenção de distúrbios metabólicos. Para isso, podemos utilizar a Monensina, Virginiamicina, Salinomicina, Leveduras, entre outros para estes fins. Se for possível, adotar protocolos na utilização de diferentes aditivos nas dietas de adaptação, crescimento e terminação são pontos bastantes favoráveis.
Diluição do ágio do boi magro
Como vimos, a forma mais certeira de alcançar aumento no lucro é aumentar a produtividade e diluir os custos para conseguirmos produzir uma @ mais barata. No confinamento, um dos custos que devem ser diluídos é o ágio do boi magro.
Mas o que é esse ágio?
O ágio do boi magro é a diferença entre o valor pago na arroba do boi magro e o valor de venda da arroba do boi gordo. Ou seja, no mês de julho de 2020 a @ do boi magro valia R$ 230 e a @ do boi gordo valia R$ 200. Assim, temos o desembolso de R$ 2.760 para comprar um animal de 12@ e venderemos posteriormente estas mesmas 12@ por R$ 2.400. Então, quanto mais @ conseguir produzir, mais diluída a diferença de R$ 360 vai ficar. Ou seja, quanto maior a produção, menor será o impacto do ágio no custo da arroba produzida.
Avaliando o resultado
Com as dietas balanceadas, manejo de alimentação correto, rotinas estabelecidas, animais sadios e aptos a responderem com ganho de peso teremos oportunidade de elevar a produção. Este aumento da produtividade no confinamento com custos dentro do planejado nos traz aumento de produção de arrobas por hectare, redução no custo da arroba produzida e maior lucro por animal. Desta forma, são estes os objetivos a serem alcançados neste sistema de produção.
O confinador precisa desmistificar a busca de GMD alto apenas. Na verdade, o que ele precisa é alcançar um equilíbrio entre o GMD e o custo da diária do confinamento, ou seja, todos os esforços no sentido de produzir uma @ barata.
Para melhor visualização dessa situação, exemplificamos abaixo o caso de um confinador que alcançou GMD mais baixo e ganhou mais dinheiro:
1 | 2 | |
Peso inicial (kg) | 420 | 420 |
Dias de confinamento | 100 | 100 |
Média CMS % PV | 2,2% | 2,2% |
Ingredientes | Silagem de Milho
Gérmen de Milho Casca de Soja Milho Farelo de Algodão Ureia Núcleo Corte MD |
Silagem de Milho
Milho Farelo de Soja Ureia Núcleo Corte MD |
GMD (kg) | 1,6 | 1,7 |
Peso final (kg) | 580 | 590 |
Rendimento de Carcaça | 54% | 54% |
@ Produzidas | 5,3 | 5,7 |
Valor da diária (Alimentação) | R$ 6,94 | R$ 7,73 |
Custo alimentar @ | R$ 100,60 | R$ 106,62 |
Custo total @ | R$ 114,80 | R$ 120,19 |
GMD: (Peso final – Peso inicial) / Dias de confinamento
Custo Alimentar @: Custos com alimentação/ @ produzidas
Custo @ produzida: Custos totais/ @ produzidas
Vimos no exemplo acima que o confinador 1 alcançou menor custo por @ engordada, mesmo com a média de GMD do lote sendo menor. Igualamos os pesos de entrada e dias de cocho, o que diferenciou foram os ingredientes utilizados. Resultado: a utilização de subprodutos realizada de forma estratégica afirmou a premissa de que, quem ganha dinheiro é quem consegue bom nível de GMD a custo mais baixo possível.
Falando em lucro, outro ponto bastante importante que precisa ser melhorado cada vez mais é o rendimento da carcaça. O rendimento de carcaça é a representação do peso do animal que de fato é de carcaça, ou seja, aquilo que é pago pelo frigorífico.
Por isso, além do GMD precisamos ficar atentos a porcentagem deste GMD que está sendo acumulado na carcaça, que é o que nos traz faturamento. Percebemos no exemplo acima que o rendimento de carcaça foi fixado em 54%, então adiante ilustraremos como este indicador pode alterar significativamente o lucro.
Admitindo o valor da @ como R$ 200, o confinador 1 que obteve lote com média de peso final de 580 kg, poderia ter ganhado mais ou menos dinheiro que o confinador 2 pela alteração do rendimento de carcaça. Veja:
PV final | 580 kg | R$/@ | R$ 200,00 | |
Rendimento de Carcaça | Peso em @ | GMD em carcaça | R$/cab. | Diferença |
50% | 19,33 | 0,80 | R$ 3.866,00 | |
51% | 19,72 | 0,86 | R$ 3.944,00 | R$ 78,00 |
52% | 20,11 | 0,92 | R$ 4.022,00 | R$ 156,00 |
53% | 20,49 | 0,97 | R$ 4.098,00 | R$ 232,00 |
54% | 20,88 | 1,03 | R$ 4.176,00 | R$ 310,00 |
55% | 21,27 | 1,09 | R$ 4.254,00 | R$ 388,00 |
56% | 21,65 | 1,15 | R$ 4.330,00 | R$ 464,00 |
Por fim, a avaliação da Eficiência Biológica vem ganhando espaço no cenário da terminação de bovinos em confinamento. Este índice mostra de forma clara quantos kg de Matéria Seca o animal precisou consumir para engordar 1@, ou seja, quanto menor este valor, melhor. O valor é encontrado pela seguinte conta:
Eficiência Biológica: Consumo (kg) total de MS/ @ produzida
Existe uma relação entre a composição da dieta e a eficiência biológica e isso significa, em termos simples, que dietas bem balanceadas em Energia, Proteína, Minerais, Vitaminas e Aditivos tendem à melhor eficiência biológica.
O primeiro nutriente limitante à eficiência biológica é a energia e, sendo assim, dietas ricas em energia são mais eficientes. Algumas ações podem ser realizadas para melhorar este indicador, como:
- Processamento de grãos para proporcionar maior exposição do amido;
- Equilíbrio entre Energia e Proteína na dieta;
- Sinergismo Proteico, ou seja, equilíbrio da Proteína Degradável no Rúmen (PDR) com a Proteína Não Degradável no Rúmen (PNDR);
- Protocolos de dieta para cada fase (adaptação, crescimento e terminação);
- Oferta correta de dieta de acordo com o consumo desejado.
Vimos que quando o assunto é resultado, cada detalhe precisa ser calculado e avaliado.
Fonte: Minerthal