A escassez de soja esperada para o segundo semestre no mercado brasileiro já começa a se confirmar neste início de julho e a disputa entre as indústrias nacionais e a exportação se intensifica a cada nova semana. Assim, os preços da oleaginosa ainda disponível, no interior do Brasil, seguem elevados, firmes e atrativos para que os sojicultores efetivem novos negócios no mercado interno.
São indicativos, nas principais regiões produtoras, acima dos R$ 100,00 por saca – em alguns pontos superando os R$ 110,00, a depender das condições logísticas, de oferta e demanda – e assim, na análise do consultor de mercado Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting, em entrevista ao portal Notícias Agrícolas, os preços nos portos deveriam bater aos menos R$ 120,00 para atrair mais produto para exportação.
“Indústrias nacionais mostram necessidade de aquisição do grão para o curto prazo, ao mesmo tempo em que novas negociações para exportação têm sido realizadas”, explicam pesquisadores do Cepea. Veja mais:
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A necessidade forte das processadoras brasileiras são reflexo do ano que deverá registrar o maior esmagamento de soja da história do Brasil. Segundo a última estimativa da Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais) serão 44,5 milhões de toneladas, 2,4% a mais do que em 2019. E é por isso também que a instituição estima ajustadas 669 mil toneladas de estoques finais de soja para 2020, 79,9% menos do que no final do ano passado.
Sobre as exportações, a projeção da Abiove é de 79,5 milhões de toneladas. Confirmado este volume, o registro seria do segundo maior da história e marcaria um aumento ainda de 7,3% em relação ao ano anterior. Mais do que isso, dados da Secretaria de Comércio Exterior mostram que mais de 60 milhões de toneladas foram embarcadas somente entre janeiro e junho deste ano.
Cruzando tantos números, muitos especialistas apostam em uma necessidade maior de importação de soja pelo Brasil em 2020. Em anos ‘normais’, as aquisições de oleaginosa importada pelo país são de cerca de 150 mil toneladas, mas há projeções, frente à atual força da demanda pelo produto nacional, de até 500 mil toneladas. Se isso será confirmado, ainda é difícil dizer.
O que já é certo é que o Brasil começa o segundo semestre com perspectivas de uma demanda por sua soja ainda maior em 2021. E de sua nova temporada já há mais de 40% comprometida com a comercialização. Ou seja, a disponibilidade já começa ajustada no próximo ano em um horizonte onde se espera um crescimento constante no consumo de alimentos.
A expectativa é de que as importações de soja da China possam superar as 100 milhões de toneladas no próximo ano. O Brasil deverá continuar a ampliar seus mercados de derivados como, principalmente o farelo de soja, e seguir atuando na liderança das exportações das três proteínas mais consumidas no mundo: bovina, suína e de frango. Há ainda um aumento na demanda pelo óleo de soja, puxado pelo setor do biodiesel, prestes a ser implementada a mistura de 13% de óleo de soja no biocombustível e com previsão de 15% até 2023.
O que eu quero dizer com tudo isso? Que a prosperidade trazida pela soja à economia do Brasil, senhoras e senhores, é um caminho sem volta.
Carla Mendes é coordenadora de jornalismo do Cenário Rural, editora chefe do Notícias Agrícolas e especializada em agronegócio, com foco no complexo soja.
Fonte: Cenário Rural