Com a intensificação da colheita e cenário de consumo tímido, valores pagos ao produtor recuam em diversas praças. Preço abaixo do custo preocupa citricultores em São Paulo e Minas Gerais.
Colheita Aumenta e Pressiona Mercado de Mesa
O mês de abril tem sido marcado por quedas expressivas nos preços da laranja destinada ao consumo in natura (mercado de mesa). Dados do Cepea apontam recuo médio de 11% nas cotações em comparação a março, com destaque para a variedade pera-rio, que chegou a ser comercializada a R$ 33,50/cx de 40,8 kg na roça, em São Paulo — valor abaixo do custo médio de produção em algumas propriedades.
Esse movimento de baixa está ligado à intensificação da colheita em importantes polos citrícolas paulistas, como Bebedouro, Araraquara e região de Limeira, além do avanço da safra também no Triângulo Mineiro.
Demanda Limitada no Atacado e no Varejo
Do lado da demanda, o consumo interno de frutas segue aquém do esperado. Apesar das temperaturas elevadas favorecerem a busca por produtos cítricos, o enfraquecimento do poder de compra da população e a concorrência com outras frutas de safra, como banana e mamão, têm limitado a valorização da laranja no mercado de mesa.
No atacado, as redes de supermercados têm reduzido o volume de compras, buscando renegociar preços com fornecedores diante da elevada oferta e da maior perecibilidade da fruta.
Produtor Enfrenta Cenário de Margem Apertada
A situação preocupa produtores independentes e pequenas cooperativas, que dependem do mercado de mesa como principal canal de escoamento. Com o preço abaixo dos custos operacionais em diversas áreas, muitos citricultores optam por acelerar a entrega para a indústria de suco, mesmo com preços menos atrativos.
Além disso, o aumento dos custos de insumos, defensivos e transporte continua pressionando as margens. O risco é de descapitalização do produtor e possível redução de área plantada para os próximos ciclos.
Indústria de Suco Pode Absorver Excedente, Mas com Preços Ajustados
A indústria processadora de suco, concentrada no interior paulista, tem ampliado o recebimento de frutas neste início de safra. No entanto, o preço pago pela laranja para indústria gira entre R$ 20,00 e R$ 23,00 por caixa, o que representa perda expressiva em relação aos valores do mercado de mesa, mesmo com a recente queda.
Com estoques ainda elevados nos portos e demanda internacional morna, as grandes processadoras devem manter os preços pressionados até que se confirmem compras expressivas dos EUA e Europa no segundo semestre.
Queda de Preços Expõe Fragilidade da Comercialização no Mercado de Mesa
A queda no preço da laranja de mesa em abril de 2025 expõe uma realidade recorrente do setor citrícola: a vulnerabilidade diante de oscilações sazonais de oferta e da frágil organização da cadeia de comercialização.
Sem instrumentos de regulação de mercado ou estrutura logística que favoreça a conservação e diversificação dos canais de venda, o produtor segue exposto à volatilidade — enquanto o consumidor nem sempre percebe a queda de preços no varejo.
Fontes: Cepea, Fundecitrus, CitrusBR, Canal Rural, Hortifruti/Ceagesp