Rumores de distensão na guerra tarifária provocam alívio nos mercados, mas analistas alertam para risco de armadilhas diplomáticas e manipulação de expectativas. Brasil e emergentes devem redobrar cautela.
Intenção ou Tática?
Nas últimas 24 horas, fontes próximas ao Departamento de Comércio dos EUA e ao Ministério do Comércio da China sinalizaram que ambas as potências “estão avaliando canais diplomáticos para evitar novo ciclo de retaliações tarifárias”. O pronunciamento provocou reações imediatas nos mercados globais: o dólar recuou 0,8%, a bolsa brasileira subiu 2,3%, e o índice Hang Seng avançou 1,7%.
Contudo, especialistas políticos e econômicos alertam que os sinais podem fazer parte de uma estratégia de contenção de danos, sem representar compromisso firme com desescalada estrutural. “Nenhum documento oficial foi publicado, e nenhuma tarifa foi suspensa”, lembra o economista-chefe da Eurasia Group, David Parker.
China Quer Evitar Fragmentação Comercial Total
Fontes diplomáticas sugerem que Pequim vê com preocupação o avanço do movimento de “desacoplamento” (decoupling), que poderia excluir empresas chinesas de cadeias globais de valor, principalmente no setor de semicondutores, energia limpa e inteligência artificial. A trégua, nesse contexto, seria uma medida defensiva para impedir a aceleração do isolamento tecnológico.
EUA Buscam Contenção Política e Alívio Eleitoral
Já para Washington, a mensagem de abertura ao diálogo pode ser uma jogada interna. Com eleições presidenciais se aproximando, a Casa Branca precisa evitar instabilidade econômica e conter o avanço da inflação, pressionada por tarifas e quebras logísticas. O discurso da trégua seria útil para acalmar mercados e atrair votos de setores industriais impactados.
Reação do Brasil e dos Emergentes
O Brasil observa com ceticismo. Fontes do Ministério da Fazenda e do Itamaraty apontam que a sinalização ainda é vaga demais para orientar qualquer movimento estratégico. Exportadores brasileiros temem que uma reaproximação entre EUA e China leve a retomada de contratos entre as duas potências, prejudicando o espaço conquistado pelo Brasil nas exportações de soja, milho, carne e minério.
Índia, Vietnã, México e Indonésia também monitoram a situação, já que todos ganharam relevância nas rotas comerciais desde o início da guerra tarifária. Uma trégua mal estruturada poderia desmobilizar cadeias alternativas e afetar os planos de industrialização regional em curso.
Alívio Real ou Jogo de Cena?
A aparente trégua entre EUA e China pode representar tanto uma abertura sincera quanto um movimento tático. O fato de não haver anúncios oficiais, suspensão de tarifas ou acordos concretos indica que o momento exige cautela. Para os países emergentes, especialmente o Brasil, é hora de manter foco em diversificação de parceiros, investimento em inovação e resiliência diplomática — evitando depender do humor volátil das duas superpotências.
Fontes: Bloomberg, Reuters, Financial Times, Eurasia Group, Valor Econômico, CNN, South China Morning Post