A escalada entre EUA e China afeta muito mais do que tarifas: há uma reconfiguração das cadeias de suprimento, erosão do multilateralismo e aceleração da regionalização econômica. Emergentes são empurrados para decisões difíceis.
Inflação Global Reacelera com Quebra de Canais Logísticos
O Fundo Monetário Internacional revisou nesta semana a previsão de inflação global para 2025, elevando-a de 4,1% para 5,2%. A guerra tarifária entre EUA e China, que agora atinge produtos-chave como baterias, semicondutores, veículos elétricos, fertilizantes, eletrônicos e vestuário, vem pressionando os custos de insumos em todos os continentes.
Segundo a Bloomberg Economics, as cadeias globais de valor estão sendo fraturadas em blocos comerciais paralelos, com prazos de entrega maiores, custo de frete em alta (aumento de 13,4% nos últimos 45 dias) e um movimento de reshoring (repatriação de produção) que eleva o preço final dos produtos.
Desglobalização Acelera: Blocos Substituem Cadeias Integradas
A nova ordem multipolar já começa a se consolidar. EUA fortalecem a aliança com México, Canadá, Índia e Taiwan, enquanto a China aprofunda os laços com BRICS+, Sudeste Asiático e países da Rota da Seda. O comércio intrabloco aumentou 9% no primeiro trimestre de 2025.
O Banco Mundial alerta para o risco de “balkanização comercial”: surgimento de zonas econômicas semi-isoladas com regras próprias, moedas alternativas e padrões técnicos exclusivos. A OMC perde relevância diante de acordos bilaterais e sanções unilaterais.
Corrida por Soberania Tecnológica Fragmenta Inovação Global
Um dos maiores efeitos da guerra comercial é a quebra da interdependência tecnológica. EUA e China criam ecossistemas paralelos de inovação em IA, telecomunicações, energia limpa e biotecnologia. Fundos soberanos de ambos os países investem bilhões em startups e infraestrutura crítica nacional.
A Europa tenta acompanhar, mas sofre com escassez de chips, fuga de capital de risco e desindustrialização precoce. Já a Índia se apresenta como novo hub de semicondutores, com apoio americano. África e América Latina ainda disputam migalhas dessa reorganização.
Alimentos e Energia Voltam ao Centro da Estratégia Global
O conflito também acirra disputas por grãos, minerais estratégicos e acesso a fertilizantes. O preço internacional da ureia subiu 6% em abril; o trigo teve alta de 3,7%; e o petróleo do tipo Brent voltou ao patamar de US$ 88,20 o barril.
Países importadores redobram os estoques estratégicos, e empresas buscam diversificar fornecedores — favorecendo países com estabilidade política e capacidade logística. O Brasil, a Indonésia e o Egito aparecem como pivôs nesse novo realinhamento.
Mercados Financeiros Oscilam e Investidores Correm para Ativos Refúgio
Em Wall Street, o S&P 500 recuou 4,2% em abril, e o índice Nasdaq teve sua pior semana desde setembro de 2022. Bolsas asiáticas operam sob forte volatilidade, enquanto o ouro atinge máximas históricas, cotado a US$ 2.435 a onça. Títulos públicos dos EUA voltaram a atrair fluxo internacional, com taxa de 10 anos recuando para 3,71%.
Investidores institucionais migraram US$ 86 bilhões para fundos indexados ao dólar, enquanto criptomoedas e commodities agrícolas ganham atratividade como hedge contra a desordem sistêmica.
O Mundo Pós-Tarifas Será Menos Eficiente, Mais Volátil e Profundamente Político
O conflito entre EUA e China vai além das tarifas: ele está redefinindo o capitalismo global, a forma de produzir, consumir e inovar. A eficiência da globalização cede lugar à lógica da segurança econômica, da autonomia industrial e da geopolítica da escassez.
Para os países emergentes, o desafio é sair da periferia das decisões e construir políticas industriais e diplomáticas capazes de garantir protagonismo no novo ciclo global.
Fontes: FMI, Banco Mundial, Bloomberg Economics, OMC, Reuters, Financial Times, Banco Central Europeu, Goldman Sachs