Com tarifas de até 245% e retaliações em cadeia, bolsas globais caem, moedas emergentes despencam e investidores correm para ouro, Treasuries e dólar americano.
Alta do Dólar Expõe Fragilidade Cambial em Economias em Desenvolvimento
Desde o anúncio das tarifas unilaterais dos EUA sobre a China, que somam até 245% com penalizações adicionais, o dólar disparou frente às principais moedas. O real brasileiro ultrapassou os R$ 5,95, o peso chileno caiu 2,3% em dois dias, e o rand sul-africano atingiu mínima de 12 meses. O índice DXY subiu para 108 pontos, o maior patamar desde meados de 2023.
Analistas da Bloomberg destacam que há uma clara fuga de capitais para os EUA, alimentada pelo temor de ruptura comercial, inflação global e incertezas geopolíticas. Fundos de hedge e bancos centrais elevam suas reservas em dólar como medida de proteção.
Bolsas Globais Recuam em Bloco
A instabilidade atingiu os mercados acionários de forma quase sincronizada:
- 📉 Nasdaq recuou 2,1%, puxada por perdas nas big techs com exposição à China;
- 📉 Ibovespa caiu 1,9%, pressionado por ações de commodities e bancos;
- 📉 EuroStoxx 50 desvalorizou 1,7%, refletindo o risco de recessão via inflação de custos.
A queda mais intensa foi observada nas bolsas asiáticas: o índice Hang Seng perdeu 3,5% e a bolsa de Xangai recuou 2,8%, com investidores temendo sanções cruzadas e desaceleração no consumo.
Alta nos Grãos, Pressão no Petróleo e Metais em Queda
Nos mercados de commodities, a soja subiu 3,2% e o milho avançou 2,5% em Chicago, impulsionados pela expectativa de que a China aumente suas compras no Brasil e Argentina. Já o petróleo Brent caiu para US$ 84,20 com receios de redução na demanda global.
Metais industriais como cobre, zinco e alumínio caíram entre 2% e 4%, refletindo menor confiança na expansão industrial chinesa e americana. O ouro disparou para US$ 2.435/onça, renovando máximas históricas.
Renda Fixa: Treasuries e Títulos Soberanos Ganham Fôlego
Investidores estão aumentando posição em ativos de proteção:
- 📌 O rendimento dos Treasuries de 10 anos caiu para 3,72%;
- 📌 O ouro valorizou 5,6% no acumulado de abril;
- 📌 Fundos lastreados em moedas fortes receberam mais de US$ 18 bilhões em aportes nos últimos 10 dias.
Mercados Percebem Guerra Comercial como Risco Sistêmico, Não Apenas Econômico
O movimento do mercado não reflete apenas ajustes técnicos, mas sim a leitura de que entramos em um novo ciclo geoeconômico, marcado por fragmentação, protecionismo e instabilidade. O investidor global, diante desse cenário, reduz exposição em mercados emergentes e procura segurança em instrumentos tradicionais. A tendência é de que a volatilidade persista até que haja clareza diplomática — o que, neste momento, parece improvável.
Fontes: Bloomberg, Valor Econômico, B3, CME Group, Reuters, CNBC, Goldman Sachs, XP Research