Conflito entre as duas maiores economias do planeta amplia espaço para o agro brasileiro, mas exige cautela diante de riscos geopolíticos e de mercado.
A escalada tarifária entre Estados Unidos e China tem sido, ao menos em um primeiro momento, favorável ao agronegócio brasileiro. Com a imposição de tarifas de até 125% por parte da China sobre produtos agrícolas dos EUA, o Brasil se consolidou como principal fornecedor alternativo, especialmente de soja, milho, carne bovina e algodão.
China Substitui EUA pelo Brasil — Por Enquanto
Dados recentes da Secex e da plataforma ComexStat mostram um aumento expressivo das exportações brasileiras para a China nos primeiros meses de 2025. O mercado chinês ampliou a compra de soja brasileira em 18% em comparação com o mesmo período de 2024, enquanto a carne bovina subiu 27%. Esse movimento fortalece a balança comercial, mas também aumenta a dependência do Brasil em relação a um único comprador.
Especialistas em comércio internacional alertam que esse cenário pode ser temporário. Apesar das atuais tensões, é possível que EUA e China retomem negociações comerciais nos próximos meses. Um eventual novo acordo entre as potências pode levar Pequim a redirecionar suas compras para os EUA, deixando o agro brasileiro em desvantagem competitiva.
Risco de Reversão e Dependência Perigosa
A concentração das exportações em poucos mercados torna o Brasil vulnerável a choques externos. Essa dependência também tem implicações ambientais e políticas, especialmente quando associada à expansão de áreas agrícolas sem o devido controle ambiental, o que pode repercutir em barreiras comerciais futuras por parte da União Europeia e outros blocos.
Necessidade de Diversificação de Mercados
Com o aumento da exposição às oscilações geopolíticas, entidades como a CNA e a Apex-Brasil têm incentivado a diversificação dos mercados internacionais. Países do Sudeste Asiático, Oriente Médio, África e América Latina são apontados como alvos estratégicos para acordos comerciais e ampliação de presença do agro brasileiro.
A aposta em tecnologia, rastreabilidade, agricultura regenerativa e cadeias produtivas sustentáveis pode ser o diferencial do Brasil para manter-se competitivo, independentemente dos conflitos comerciais globais. O uso de IA, big data e práticas ESG está cada vez mais presente nas feiras internacionais e na agenda de exportadores nacionais.
Oportunidade com Sinal de Alerta
A guerra comercial entre EUA e China abre uma janela estratégica para o agronegócio brasileiro, mas essa janela pode se fechar tão rapidamente quanto se abriu. O setor precisa agir com planejamento, visão de longo prazo e equilíbrio entre performance comercial e responsabilidade socioambiental para transformar o protagonismo momentâneo em liderança duradoura.
Fontes: CNA, Secex, Apex-Brasil, ComexStat, CNN Brasil, Valor Econômico, BrasilAgro, Forbes Agro, Bloomberg