O mercado do boi gordo começou abril com sinal de recuperação expressiva. Em São Paulo, a arroba subiu para R$ 247,50, de acordo com o Indicador Cepea/B3, refletindo uma valorização de mais de R$ 10 nos últimos dez dias. A principal explicação está na oferta reduzida de animais prontos para abate e na reconfiguração das escalas dos frigoríficos.
Os frigoríficos, que vinham operando com escalas de abate confortáveis no final de março, agora enfrentam dificuldade para preencher a programação da primeira quinzena de abril. Em algumas plantas do Centro-Oeste e Sudeste, as escalas recuaram de oito para cinco dias úteis, gerando movimento de alta nos preços para garantir volume.
Pastagens Desgastadas Aceleram Oferta Pontual
Outro fator de pressão é o desgaste das pastagens, especialmente nas regiões onde a chuva foi irregular nos últimos dois meses. Isso força pecuaristas a acelerar a venda de animais, o que pode gerar uma pressão de curto prazo na oferta, mas não o suficiente para conter a tendência de alta.
As exportações de carne bovina continuam como um dos pilares do mercado. Em março, o Brasil embarcou 194 mil toneladas, com destaque para a China, que respondeu por 56% do volume. A demanda externa aquecida mantém o ritmo de abates e contribui para o escoamento da produção, sustentando os preços.
Reação do Mercado Interno Ainda Tímida
No mercado doméstico, o consumo de carne bovina ainda está abaixo do ideal, mas há leve recuperação no atacado, com alta de 1,8% nos cortes de dianteiro na primeira semana do mês. Especialistas atribuem o movimento à reposição de estoques no varejo e à proximidade de datas comemorativas, como o Dia das Mães.
Com a valorização da carne bovina no mercado internacional e a alta na arroba, os frigoríficos começam a revisar suas margens. As empresas exportadoras seguem mais protegidas, enquanto plantas que operam majoritariamente para o mercado interno enfrentam desafios com os custos operacionais.
Oferta de Confinamento Ainda Baixa
A primeira rodada de confinamento ainda não ganhou ritmo. Com os custos de alimentação em alta, especialmente milho e farelo de soja, muitos produtores optaram por postergar a entrada dos animais no cocho. Isso reduz a oferta de boi de confinamento no curto prazo e colabora para o viés altista do mercado.
Analistas apontam que, caso não haja uma mudança brusca na oferta, os preços podem alcançar R$ 255 por arroba até o final do mês. A combinação entre menor disponibilidade, exportações firmes e escalas apertadas tende a sustentar o movimento de alta.
Sinais de Cautela para o Segundo Semestre
Apesar da tendência de valorização no curto prazo, o setor ainda observa com cautela o comportamento do consumo interno e os possíveis desdobramentos da guerra comercial global. A volatilidade do dólar e eventuais barreiras sanitárias também são fatores de atenção.
O mercado do boi gordo vive um abril de retomada, com fundamentos consistentes e expectativa de continuidade no movimento de alta. Pecuaristas, no entanto, devem seguir atentos aos custos e à dinâmica da demanda, tanto no mercado interno quanto no externo.
Fontes: Cepea, B3, MAPA, Canal Rural, Scot Consultoria, Abrafrigo, Notícias Agrícolas