As altas temperaturas e a seca atingiram o Sudeste do país antes mesmo dos incêndios de agosto e setembro e isso reduziu a safra de laranja em 2023/24 ao menor volume em 30 anos. Por consequência, a indústria de suco teve de acelerar a colheita, as laranjas ficaram menores e foi necessário maior quantidade de frutos para atingir a mistura ideal.
Além de comprometer a oferta atual, os estoques para 2024/25 ficaram muito apertados, o que coloca pressão adicional nos preços e no consumo. Neste ano até dia 17 de setembro, o suco de laranja concentrado e congelado (FCOJ, na sigla em inglês), negociado na bolsa de Nova York, subiu 51,3% e ontem terminou o dia a US$ 4,9615 a libra-peso.
Segundo Ibiapaba Netto, diretor-executivo da CitrusBr, enquanto na safra 2022/23 foram necessárias 280,6 caixas para produzir uma tonelada de FCOJ equivalente a 66 brix, em 2023/24 foram necessárias 298,1 caixas. A associação representa as maiores empresas de suco de laranja do mundo — Cutrale, Louis Dreyfus e Citrosuco.
FCOJ é a sigla para suco de laranja concentrado congelado em inglês, um processo de extração da água. Brix é uma escala numérica que mede a quantidade de sólidos solúveis em uma solução, principalmente açúcar ou sacarose. Um Brix equivale a 1 grama de sacarose em 100 gramas de solução.
“Se o rendimento tivesse se mantido nas 280,6 caixas por tonelada, teríamos produzido 56,3 mil toneladas a mais de suco e os estoques teriam subido a 173,01 mil toneladas. Então, de certa forma, o que a demanda não levou porque está em queda, a natureza deu um jeito de tirar do mercado pela quantidade de sólidos solúveis na fruta”, disse Netto.
A colheita antecipada tem o papel de garantir disponibilidade mínima de frutas, mas impacta de forma importante algumas características do suco produzido, como maior acidez, cor mais clara e pálida e notas de sabor amargo mais evidentes, segundo ele.
Quebra de safra
O cinturão citrícola de São Paulo e Minas Gerais passa pela quinta safra consecutiva de baixa produção, finalizada em 269 milhões de caixas em 2023/24, segundo o Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus).
Levantamento realizado por meio de auditoria independente de cada uma das empresas associadas à CitrusBR e consolidado por auditoria externa revelou que essa safra gerou o processamento de um total 267,9 milhões caixas de 40,8 quilos de laranjas. Desse total, 243,3 milhões foram processadas pelos membros da CitrusBR e cerca de 24,6 milhões de caixas por não membros. A alta foi de menos de 1% em relação ao volume processado na temporada anterior.
Esse processamento gerou um total de suco de laranja na safra 2023/24 de 898,7 mil toneladas de FCOJ equivalente, 5% menos que na temporada 2022/23.
A mesma consolidação revelou que os estoques globais de suco brasileiro, convertidos em FCOJ equivalente 66 Brix em posse dos associados CitrusBr, totalizavam 116,71 mil toneladas em 30 de junho de 2024, o terceiro menor volume da história. Em relação ao mesmo período de 2023, quando somaram 84,75 mil toneladas, houve aumento de 37,7%.
Demanda
Os caminhos da indústria de suco nunca tiveram tantos obstáculos. Apesar de o preço no mercado internacional garantir uma boa remuneração, o setor está preocupado com a demanda. Na safra 2023/24, finalizada em abril, a receita de exportações foi recorde e alcançou US$ 2,5 bilhões (alta de 21,3%) em vendas de suco de laranja concentrado e congelado.
O volume de suco exportado, porém, caiu 9,3% na temporada, para 961,3 mil toneladas.
Fonte : Globo Rural