Entre as indústrias sucroenergéticas listadas na B3, São Martinho e Raízen tiveram impactos causados pelos incêndios em canaviais em São Paulo. Na avaliação do J.P. Morgan, as perdas podem aumentar à medida que as empresas relatarem suas próprias avaliações. Já os analistas do BTG Pactual esperam impacto mínimo nas empresas, pois embora os incêndios tenham atingido algumas áreas de seus canaviais, não afetaram diretamente as usinas.
A São Martinho relatou na noite desta segunda-feira, 26, que 20 mil hectares da sua área plantada foram afetados. A companhia informou que espera colher essa cana e processar com uma perda limitada no nível de Açúcar Total Recuperável (ATR) para a safra 2024/25, mas com redução na eficiência industrial, resultando em redução de 110 mil toneladas de açúcar (7%) do total, compensada pelo aumento na produção de etanol. O J.P. Morgan calcula que a perda no mix mais fraco será de R$ 20 milhões.
A São Martinho também anunciou investimento de R$ 70 milhões em tratos culturais adicionais para a próxima safra. O impacto total, segundo o J.P. Morgan, é equivalente a 2% do lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) da São Martinho, ou 7% do fluxo de caixa livre estimado para o ano.
A Raízen, por sua vez, relatou que 1,8 milhão de toneladas de cana própria e de terceiros foram afetadas, o equivalente a quase 2% da produção esperada na safra. A empresa também pretende processar a cana, com perda limitada de ATR. A sucroenergética ainda não divulgou os impactos potenciais no mix de açúcar ou nos investimentos.
Ainda na visão dos analistas do J.P. Morgan, os impactos financeiros para a São Martinho e, eventualmente, para a Raízen, devem ser parcialmente mitigados por preços mais fortes, já que a redução na oferta deve se refletir de alguma forma nos preços do açúcar e do etanol.
A área rural de São Paulo foi fortemente impactada no último fim de semana, em parte devido a atividades criminosas. As estimativas da GP Commodities são de que mais de 60 mil hectares de áreas plantadas de cana-de-açúcar no estado foram afetadas. “Mas achamos que o número provavelmente aumentará, à medida que as empresas relatarem suas próprias avaliações”, afirmaram em relatório os analistas do J.P. Morgan, Lucas Ferreira e Froylan Mendez.
A Adecoagro, por outro lado, é a única que permanece imune porque a maioria das usinas e canaviais da empresa estão no Mato Grosso do Sul. Segundo a companhia, suas usinas e campos não foram afetados.
O J.P. Morgan manteve recomendação neutra (equivalente à manutenção das ações) para a Adecoagro, com preço-alvo de R$ 10,65, e para a São Martinho, com preço-alvo de R$ 30,40. Em relação à Raízen, o banco mantém recomendação de compra, com preço-alvo de R$ 3,30. Já o BTG Pactual mantém recomendação de compra para as ações da São Martinho, com preço-alvo de R$ 29,35, e recomendação de compra para Raízen, com preço-alvo de R$ 3,27.
“Se a cana-de-açúcar afetada for processada rapidamente, não devemos ver uma redução significativa de Açúcar Total Recuperável (ATR) extraído. A principal preocupação com esses incêndios é a necessidade de colher e processar rapidamente a cana-de-açúcar, o que pode levar ao aumento dos volumes de processamento e à redução da eficiência industrial”, afirmaram em relatório os analistas do Thiago Duarte, Guilherme Guttilla, Pedro Soares e Henrique Pérez, do BTG Pactual.
Esse processamento pode resultar em uma proporção maior de produção de etanol em relação ao açúcar, observam os analistas.
No caso da São Martinho, que colhe cerca de 270 mil hectares de canaviais, e da Raízen, que processa cana plantada em mais de 1,2 milhão de hectares, a área afetada precisaria ser muito substancial para ter um impacto significativo na mistura, na visão dos analistas do banco.
Relatórios preliminares apontam que 59 mil hectares de canaviais foram afetados, representando menos de 1% da área plantada no Brasil nesta safra. “Isso nos leva a crer que qualquer efeito provavelmente não será material até este ponto”, acrescentaram.
Os analistas consideraram ainda que as duas empresas seguem com potencial de ganhos para os investidores. “Enquanto a Raízen apresenta uma oportunidade de investimento de alto risco e alta recompensa, a São Martinho oferece uma opção mais segura, com um atraente rendimento de fluxo de caixa livre de 8% para o ano fiscal 2026”, apontam.
Os analistas concluem: “Ambas as empresas devem se beneficiar de catalisadores de curto prazo, como o aumento dos preços do etanol visando conter a demanda e uma perspectiva otimista de longo prazo sobre os preços do açúcar”.
Exagero
Na avaliação dos analistas Leonardo Alencar, Pedro Fonseca e Samual Isaak, da XP, o mercado reagiu de forma exagerada às notícias, com os preços do açúcar subindo 3,48%, já que ainda é cedo para avaliar os impactos finais sobre a produção de açúcar do Brasil.
“O aumento dos preços do açúcar levou as ações da São Martinho a subirem, sem o mesmo impacto para a Raízen. Nós antecipamos que um aumento nos preços do açúcar era provável no curto prazo. Vemos riscos baixistas para as estimativas de consenso, uma vez que modelamos os preços do açúcar acima das curvas futuras”, disseram os analistas em relatório.
A XP reduziu as estimativas de lucro ajustado antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) da São Martinho em 1,5% e reduziu em 0,6 ponto percentual a previsão de rendimento de fluxo de caixa livre para 2024/25, com o maior mix de etanol e de investimento.