A percepção dos clientes sobre um produto, marca ou empresa é tradicionalmente uma linha de pesquisa nas áreas de Administração e Marketing. A análise acerca da imagem e da reputação de uma empresa ou instituição envolve elementos complexos. Os primeiros conceitos sobre reputação na literatura acadêmica destacam a questão da intangibilidade, tratando-a como um ativo intangível pertencente a empresa (SCHURMANN, 2006; HALL, 1992, 1993).
Desde essas primeiras conceituações, o cenário global mudou significativamente. A globalização, a internet e a popularização das mídias sociais adicionaram novos elementos às concepções de imagem e reputação. A partir de um simples clique, uma notícia pode ser difundida e replicada inúmeras vezes na rede, com impactos que podem reverberar instantaneamente nos negócios. Em paralelo, a ciência avançou em múltiplos aspectos, ocorrendo o aprimoramento de técnicas e evolução de metodologias. Atualmente, é possível aproximar-se da percepção simbólica da reputação de maneira concreta e mensurável.
Sob esse aspecto, a imagem e a reputação têm assumido uma importância crescente nas atividades do agronegócio brasileiro. A integração de elementos ambientais na produção agropecuária se consolidou como um debate necessário e indispensável. A adoção de agendas ASG (Ambiental, Social e Governança) é uma realidade cada vez mais presente no setor. Nesse contexto, a implementação de práticas sustentáveis na produção agroindustrial pode auxiliar no acesso a mercados internacionais, no fornecimento de uma resposta às demandas de consumidores, além de atrair investimentos responsáveis e antecipar-se à pressão regulatória para produção ambientalmente sustentável.
No que tange aos aspectos de sinalização, os índices ambientais¸ antes estabelecidos prioritariamente no âmbito institucional, em universidades e centros de pesquisas renomados, passaram a incorporar discussões e debates presentes nas mídias sociais, refletindo mudanças comportamentais da sociedade. Essa tendência destaca a importância de aprimorar continuamente as ferramentas de mensuração, considerando tanto a reputação captada por indicadores consagrados quanto a percepção de stakeholders. Com a introdução de novos elementos aos indicadores, é relevante para o agronegócio brasileiro a incorporação tendências de sustentabilidade, mas também é importante sinalizar a adoção de tais padrões para manutenção de uma imagem ambiental positiva. Além de ser sustentável, é preciso parecer sustentável.
De modo a responder à pergunta proposta no título deste artigo: Sim, é possível mensurar questões intangíveis da reputação do comércio agroindustrial. No entanto, é necessário ter cautela e, principalmente, rigor metodológico para incorporar questões tão complexas como essas. Novos avanços nas metodologias, como pesquisas recentes realizadas no âmbito do Cepea e da Esalq/USP, utilizam ferramentas de inteligência artificial para construir indicadores e conferir precisão à imagem ambiental capturada a partir das redes sociais. Ademais, os referidos indicadores incorporam preferências de importadores na construção do indicador de reputação ambiental do agronegócio brasileiro.
Em suma, os fenômenos atuais estão cada vez mais complexos, e, por isso, torna-se imprescindível transitar entre diversas áreas do conhecimento para se aproximar e compreender os problemas contemporâneos. Em um contexto em que a abundância de informação é uma constante, reforça-se a necessidade de uma metodologia adequada, que seja capaz de capturar, compreender e explicar fenômenos da realidade. Ademais, a metodologia deve ser pautada na imparcialidade dos critérios científicos, evitando que a análise seja direcionada a partir das preferências do pesquisador. A ciência deve ser imparcial, e os métodos devem refletir esse princípio, garantindo a objetividade e a confiabilidade dos resultados obtidos.
SCHÜRMANN, S. Reputation: some thoughts from an investor’s point of view. The Geneva Papers on Risk and Insurance, v. 31, n. 3, Special Issue on Reputational Risk, p. 454-469, 2006.
HALL, R. The strategic analysis of intangible resources. Strategic Management Journal, v. 13, p. 135-144, 1992.
HALL, R. A framework linking intangible resources and capabilities to sustainable competitive advantage. Strategic Management Journal, v. 14, p. 607-618, 1993.
OLIVEIRA, M. M. A imagem ambiental do Brasil na política internacional e o impacto da reputação sobre o comércio agroindustrial. 2024. Tese (Doutorado em Ciências – Economia Aplicada) – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, Piracicaba, 2024.
FONTE: CEPEA ESALQ