André Teles
Zootecnista, Doutorando da Universidade Federal do Tocantins
Fabricia Rocha Chaves Miotto
Zootecnista, Professora da Universidade Federal do Tocantins
O Brasil se destaca no cenário mundial de produção e exportação de carne bovina, porém, é de amplo conhecimento que a pecuária brasileira ainda apresenta baixos índices de produtividade. Diante disso, dietas com maiores proporções de concentrado vêm sendo utilizada por permitir o abate de animais jovens e benefícios no aumento da produtividade e na qualidade da carcaça.
Rações de alto consumo ou alto grão, com alta densidade energética podem trazer benefícios como: elevados ganhos de peso, produção de carne de melhor qualidade, aumento na taxa de desfrute e eficiência produtiva, maior giro de capital, redução da idade ao abate e, liberação de áreas para outras categorias animais (LOPES; MAGALHÃES, 2005).
Aliado a isso, a terminação de novilhas pode permitir produção de carcaças de qualidade, pois podem ser abatidas com idade relativamente curta e peso mais leve, apresentando bom acabamento, melhorando as características da carcaça e da carne.
Diante disso, a participação de dietas alto grão ou com alta participação de concentrado tem crescido de forma expressiva nos confinamentos brasileiros, principalmente, em função do aumento da produção de grãos, permitindo aos pecuaristas adquirirem os grãos a preços favoráveis, uma vez que os confinamentos estão diretamente ligados a produção de grãos, farelos e co-produtos (ARRIGONI et al., 2013).
Segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), espera-se uma produção recorde de 219,14 milhões de toneladas para a safra 2016/17, com estimativa de produção para o milho e sorgo, principais grãos utilizados em dietas com alta proporção de concentrado, de 87,41 e 1,65 milhões de toneladas respectivamente, para a safra 2016/17, aumento de 31,4 e 59,6%, em relação à safra anterior.
A utilização do grão inteiro pode ser uma alternativa na redução de custo, sem depender do processo de moagem que eleva o preço final da dieta.
Segundo SILVA (2009), as vantagens em utilizar o milho inteiro em dietas seriam: eliminar a dependência da obtenção de volumoso, reduzir gastos com mão de obra, infraestrutura e maquinários, além de promover melhor estabilidade fermentativa, pois a taxa de passagem do milho inteiro é mais lenta, quando comparado ao milho moído, bem como a fermentação do amido (BRITTON; STOCK, 1987), resultando em menores picos de produção de ácido graxos, evitando problema de desordens metabólicas como acidose.
Foi conduzido na Universidade Federal do Tocantins (UFT) um trabalho avaliando a terminação de novilhas Angus x Nelore, em regime de semiconfinamento, em que foram observados melhores resultados quando os grãos foram moídos (Tabela 1).
Neste trabalho os concentrados foram formulados com 85% de milho ou sorgo e 15% de um núcleo proteico (Engordim®) (Figura 2), fornecidos a vontade sempre pela manhã. Os animais foram mantidos durante 63 dias em pasto de capim Mombaça diferido, com disponibilidade média sempre acima de 2.000kg de matéria seca/ hectare e taxa de lotação média de 10,5 UA/ha.
Tabela 1 – Desempenho e características de carcaça de novilhas Angus X Nelore recebendo concentrado com milho e sorgo, inteiro ou moído |
||||
Variáveis | Milho | Sorgo | ||
Inteiro | Moído | Inteiro | Moído | |
Peso Inicial, kg | 279,56 | 272,67 | 281,11 | 275,33 |
Peso Final, kg | 367,44 | 385,33 | 346,33 | 376,44 |
Consumo de concentrado, kg/dia | 7,64 | 7,27 | 8,11 | 7,49 |
Consumo de MS, % do PV | 2,33 | 2,18 | 2,58 | 2,27 |
Ganho médio diário, kg/dia | 1,40 | 1,79 | 1,04 | 1,60 |
Eficiência alimentar, % | 0,19 | 0,24 | 0,13 | 0,22 |
Peso de carcaça quente, kg | 185,83 | 200,06 | 175,11 | 196,28 |
Rendimento de Carcaça, % | 50,57 | 51,92 | 50,56 | 52,14 |
Espessura de gordura subcutânea, mm | 4,92 | 4,72 | 3,42 | 4,44 |
No presente estudo a moagem dos grãos favoreceu o maior ganho diário para com média de 1,70 kg/dia, menor consumo de matéria seca (2,22% do PV), influenciando numa melhor eficiência alimentar (0,23 kg/kg), para os animais que consumiram os grãos na forma moída.
Além disso, animais alimentados com grãos moídos apresentaram maior peso e rendimento de carcaça. Com exceção dos animais que receberam sorgo inteiro, os demais apresentaram boas espessuras de gordura subcutânea, acima de 4mm. No entanto todos ficaram acima do limite mínimo exigido pela indústria frigorífica, que é de 3mm, para uma boa proteção da carcaça evitando o encurtamento da fibra pelo frio.
Figura 1. Novilhas no início do experimento no campo experimental da UFT
Quando foi avaliado o efeito do grão, milho ou sorgo, independentemente do processamento, sobre as mesmas características foi observado maior ganho médio diário (1,59 kg/dia) e eficiência alimentar (0,22 kg/kg) para os animais que receberam concentrado com milho, sem diferenças expressivas para as demais características.
Figura 2. Concentrados fornecidos aos animais durante o período experimental
Parte dos resultados desfavoráveis ao grão de sorgo, o qual é analisado em conjunto, ocorreu principalmente pelo baixo desempenho do sorgo grão inteiro, pois podemos observar que em muitas características o sorgo moído teve bom desempenho em relação ao grão de milho.
Em relação à avaliação econômica o processamento dos grãos se mostrou vantajoso em relação aos grãos não processados (Tabela 2).
Tabela 2 – Indicadores econômicos de novilhas mestiças Angus X Nelore alimentadas com milho ou sorgo, inteiro ou moído | ||||
Variáveis | Milho | Sorgo | ||
Inteiro | Moído | Inteiro | Moído | |
CMN1 concentrado, Kg/dia | 9,02 | 9,08 | 10,01 | 9,47 |
Custo/kg de concentrado, R$/kg | 0,62 | 0,66 | 0,55 | 0,59 |
Custo diário com concentrado, R$/dia | 5,62 | 5,97 | 5,49 | 5,51 |
Custo total com concentrado, R$/animal | 354,17 | 375,99 | 345,79 | 347,41 |
Custo do kg de ganho de peso, R$/kg | 4,05 | 3,34 | 5,35 | 3,46 |
Receita bruta, R$/animal | 1362,778 | 1467,07 | 1284,15 | 1439,37 |
Margem bruta | 58,61 | 141,08 | -11,64 | 141,96 |
Receita/hectare | 16.108,48 | 17.341,30 | 15.179,06 | 17.013,83 |
1 Consumo na matéria natural |
De acordo com a avaliação econômica podemos observar na tabela acima menor preço médio dos concentrados formulados com sorgo, justificado pelo menor preço do sorgo e do pellet (Engordim®) associado ao grão. O fornecimento do grão inteiro tornou o custo do kg de ganho de peso mais caro, reflexo do menor ganho médio diário e maior consumo dos animais que receberam dieta com grão inteiro quando comparado àqueles que receberam grão moído.
Com isso, ao fornecer os concentrados moídos à receita com a venda dos animais foi superior em média R$ 129,76/animal, obtendo maior margem bruta para as dietas com o grão moído, indicando maior viabilidade econômica. O milho inteiro apresentou uma margem bruta intermediária de R$ 58,61 e, o sorgo inteiro se mostrou inviável quando comparado às outras estratégias.
Em conclusão, quando se termina novilhas em regime de semiconfinamento (Pasto + concentrado) os grãos devem ser fornecidos moídos por promover melhor desempenho produtivo e econômico.
BIBLIOGRAFIA
BRITTON, R. A.; STOCK, R. A. Acidosis, rate of starch digestion and intake. Pages 125–137 in Symposium Proceedings: Feed Intake by Beef Cattle. F. N. Owens, ed. Publ. MP 121. Oklahoma State Univ., Stillwater, 1987.
LOPES, M.A.; MAGALHAES, G.P. Análise da rentabilidade da terminação de bovinos de corte em condições de confinamento: um estudo de caso. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, Belo Horizonte, vol. 57, n. 3, p.374-379, jun. 2005.
VIEIRA JÚNIOR, M.C.S.; PERDIGÃO, L.C.; RIBEIRO, A.; FACTORI, F.Z.; Níveis elevados de concentrado na dieta de bovinos em confinamento. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, vol. 20, n. 4, p. 539-551, 2013.
SILVA, H. L. Dietas de alta proporção de concentrados para bovinos de corteconfinado. 2009. 177f. Tese (Doutorado em Ciência Animal) – Programa de PósGraduação em Ciência Animal, Universidade Federal de Goiás, 2009.