A Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) realiza dois experimentos para ampliar as opções de variedades de uva para a produção de vinhos finos de inverno sob o manejo de dupla poda. O trabalho consiste na avaliação de oito diferentes porta-enxertos nos parâmetros agronômicos e ecofisiológicos das videiras Merlot, Cabernet Sauvignon e Syrah e na testagem de 12 variedades tintas e brancas, ainda não cultivadas no estado.
“Dentre as variedades tintas, nós temos Tempranillo, Touriga Nacional, Mourvedre, Petit Verdot, Grenache, Carmenere, Marselan, e como variedade testemunha, para efeitos de comparação, a Syrah, uva tinta que melhor se adaptou ao cultivo de inverno. E entre as brancas, nós utilizamos a Marsanne, a Muscat Petit Grain Blanc, a Viognier e a Vermentino. Variedades que ainda não tinham sido experimentadas sob o manejo de dupla poda”, informa o pesquisador da Epamig, Francisco Câmara.
A área experimental foi instalada no ano de 2015 em uma propriedade comercial no município de Andradas, a Vinícola Casa Geraldo, e já se prepara para a quarta safra. “Nós avaliamos as safras de 2018 a 2020 e estamos nos preparando para a safra 2021. A primeira safra, geralmente, tem menor potencial, porque a planta ainda está muito jovem, terminando de se formar. Então, em teoria, tivemos duas safras para comparar e houve algumas variações. Não sabemos, ainda, se por questões climáticas, já que em 2020 choveu muito no mês de fevereiro, quando ocorre a floração”, detalha o pesquisador.
Francisco Câmara destaca que algumas variedades já demonstraram potencial para o cultivo sob o manejo de dupla poda. “Alguns exemplos são a Marselan, a Tempranillo e a Grenache, entre as tintas. Entre as brancas, podemos falar da Marsane, da Vermentino e da Muscat Petit Grain Blanc, que foram muito produtivas, com ótimas características, alta acidez, bons conteúdos de sólidos solúveis, que são os açúcares que serão transformados em álcool. Durante a vinificação, deu para perceber o potencial aromáticos delas, apesar de os vinhos ainda não terem passado por análises sensoriais”, avalia.
Algumas variedades como a Touriga Nacional, a Mourvedre e Viognier tiveram produção intermediária e novos testes buscam averiguar se é uma questão de adaptação, de clone, ou de poda. O pesquisador acredita que após a safra 2021 serão divulgados dados mais precisos. “Os resultados ainda não são conclusivos. A Carmenére, por exemplo, nós testamos em um tipo de poda que não beneficia a planta, que tem as gemas mais distantes do braço. Nesse ano vamos tentar reconduzir, com um novo sistema de poda para tentar induzir a produção”, afirma.
Porta-enxertos
A prática da enxertia da videira é obrigatória em vinhedos de quase todo o mundo como forma de prevenção à filoxera (Daktulosphaira vitifoliae), afídeo que ataca às raízes da espécie Vitis vinifera, causando o apodrecimento do sistema radicular, que foi responsável pela devastação dos vinhedos europeus em meados do século XIX e posteriormente disseminado para outras regiões vitícolas.
Os porta-enxertos também auxiliam no combate a outros patógenos como nematoides e cochonilhas e na captação de água e nutrientes, dentre outras condições que favorecem o desenvolvimento da planta. Sob o manejo em dupla poda recomenda-se a utilização de porta-enxertos que possam conferir o vigor necessário para suportar os dois ciclos de crescimento.
“No segundo ciclo, o reprodutivo, que culmina na colheita, entre junho e agosto, há menor disponibilidade hídrica no solo e mais frio, então o porta-enxerto deve ter tolerância ao estresse hídrico moderado. Precisa também induzir vigor vegetativo e reprodutivo, mas não em excesso. Não é viável economicamente, você ter uma planta que produz muita folha e sem cacho, assim como não dá para ter muito cacho e pouca folha, pois isso atrapalha o processo fotossintético, o que pode afetar a produção e as reservas da planta”, explica Francisco Câmara.
A realização de estudos que avaliem a interação entre o porta-enxerto e a variedade produtora é fundamental para aumentar o volume e a qualidade da produção dos vinhedos submetidos à dupla poda. “Algumas videiras como a Merlot e a Cabernet Sauvignon não produziram bem com porta-enxertos de médio vigor como o Paulsen. Para induzir a produção nessas variedades usamos porta-enxertos mais vigorosos do grupo IAC, que são desenvolvidos para a fruticultura tropical, uma prática pioneira”, ressalta o pesquisador.
Os porta-enxertos avaliados foram classificados em grupo de acordo com sua interação com as variedades testadas. Para a Cabernet Sauvignon, cinco (IAC 766, Gravesac, Rupestre, SO4 e Kober) induziram a produção com qualidade, em aspectos como acidez, sólidos solúveis, pH baixo, teor de antocianinas e compostos fenólicos. Para a Merlot, dois se sobressaíram (IAC 766 e Rupestre).
A videira Syrah foi avaliada como referência nesse experimento. “A Syrah é muito produtiva mesmo em porta-enxertos pouco vigorosos. Já a Sauvignon Blanc, variedade branca mais cultivada para manejo em dupla poda, que não foi avaliada, pode apresentar maior produtividade se testada em porta-enxertos mais vigorosos, como o que já ocorreu com a Merlot em nossos experimentos”, finaliza Francisco.
Fonte: Epamig/Ascom