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O aumento da demanda de animais jovens para a engorda intensiva, seja a pasto ou confinada;
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A necessidade de atender às exigências da indústria, cada vez mais voltada à exportação, e que exige um animal jovem de até 30 meses;
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A diminuição das margens do produtor, que precisará focar em retorno por área/ano e não mais por animal abatido;
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O crescimento da integração lavoura-pecuária, que aumentará a oferta de grãos para suplementação e, a recuperação de áreas degradadas de pastagem.
Dentro do sistema de engorda brasileiro atual, a recria corresponde ao período mais longo e mais variável com relação ao uso de tecnologias, e apesar de ser uma fase em que o animal converte de forma eficiente nutrientes da dieta em carcaça, é justamente no pós-desmame que se encontra o principal desafio do gado: superar a primeira seca, e as consequências que ela traz, para a disponibilidade e qualidade dos pastos. No entanto, diversos projetos pecuários têm conquistado resultados positivos na recria com a implementação de estratégias nutricionais e de manejo, acelerando a recria do gado e aumentando o retorno financeiro.
No pós-desmame, os animais estão fisiologicamente em crescimento de estrutura corporal, ou seja, ainda não alcançaram a maturidade. Comparativamente, a conversão de alimento em ganho de carcaça em animais jovens e leves, é melhor que em animais adultos e mais pesados e, portanto, o investimento em nutrição nessa fase tende a render bons resultados. Isso se deve ao fato de que animais mais erados e pesados, tendem a depositar mais gordura, um componente da carcaça que demanda mais energia. Além disso, um melhor ganho de carcaça durante a recria, maximiza o ganho ao longo do ciclo de produção, pois animais sem limitação de nutrientes na recria tendem a ganhar mais carcaça durante a engorda. Esse tópico inclusive ainda gera muita confusão no campo. Muitas vezes, o ganho compensatório durante a engorda, comum em animais que sofreram com alguma restrição de alimentos durante a recria, é ainda comemorado em alguns locais. Sabe-se que o ganho compensatório é resultado também do crescimento e desenvolvimento de órgãos envolvidos no processo digestivo dos animais, conhecidos como componentes não-carcaça e, portanto, não geram resultados financeiros ao produtor.
Um trabalho publicado recentemente, evidenciou essa situação e nos ajuda a entender a importância da nutrição na recria, sobre a composição do ganho e retorno financeiro ao longo do período de engorda. No período pós-desmame os animais foram submetidos a 3 planos nutricionais durante a recria, seguido de terminação com alto concentrado conforme a tabela 1 abaixo:
Tabela 1 – Esquema dos planos nutricionais avaliados no trabalho, com diferentes ganhos de peso diário (GPD) na recria, seguido do mesmo plano nutricional na terminação.
Recria |
Terminação |
GPD baixo – 0 Kg/dia |
GPD alto |
GPD médio – 0,6 Kg/dia |
GPD alto |
GPD alto – 1,2 Kg/dia |
GPD alto |
O estudo observou que, os animais no tratamento para alto desempenho na recria converteram nutrientes de forma mais eficiente, ou seja, produziram mais carcaça quando comparado aos demais tratamentos. Mas, o mais interessante é o resultado na engorda e, também o retorno financeiro da operação. Na engorda, os animais que passaram por restrição durante a recria ganharam mais peso, mas o pior resultado desses animais nesta fase, foi apenas parcialmente compensado na terminação, ou seja, mesmo com o ganho compensatório, os animais que passam por restrição alimentar na recria não conseguem atingir o mesmo padrão de ganho de carcaça, que animais que não sofreram restrição alimentar.
Mas, e para o bolso do pecuarista, será que vale a pena investir na recria?
É preciso destacar que intensificar a recria necessariamente passa por aumentar a oferta de nutrientes para os animais, principalmente durante o período seco do ano. Isso acontecerá de três maneiras:
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Suplementação estratégica com proteinados ou protéico energéticos;
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Vedação/diferimento de pastagens;
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Utilização de estrutura de confinamento para fornecimento de volumoso no cocho.
O mesmo trabalho discutido acima, também avaliou o retorno financeiro para os 3 planos nutricionais utilizados na recria sobre o resultado financeiro da operação recria+engorda, nos trazendo uma boa visão da importância do retorno ser avaliado com base em ganho de carcaça. Em resumo, a recria conduzida com planos nutricionais para baixo ganho, ou seja, apenas mantendo o peso do animal ao longo da recria, gerou prejuízo. Esse prejuízo foi compensado parcialmente durante a engorda, mas o melhor resultado financeiro considerando todo o período (recria+engorda) ficou com a estratégia para alto ganho na recria (1.2 Kg), conforme evidenciado na Figura 3 abaixo. Isso não significa que essa deva ser a estratégia de escolha para qualquer fazenda, especialmente no Brasil, onde encontramos diferentes situações de acesso a grãos, logística, tipo de raça e climas, mas sim, que o ganho de carcaça durante a recria+engorda, apesar do custo maior com suplementação, gerou mais lucro na situação experimental.
Figura 3 – Efeito de 3 planos nutricionais distintos na recria (baixo (0g/d), médio (0,6 Kg/d) e alto (1,2 Kg/d) ganho de peso) sobre o resultado financeiro ($ – dólares) ao longo da recria, engorda e recria + engorda. As setas vermelhas indicam prejuizo para o plano nutricional baixo na recria, e o quadrado vermelho indica o resultado financeira ao final da operação recria+engorda.
Fonte: Adaptado de Silva et al., 2020
A figura 4 abaixo ilustra o que podemos esperar com diferentes tipos de estratégias nutricionais durante o período seco. As simulações foram realizadas com a ferramenta Predição de Desempenho a Pasto, da Cargill/Nutron. Essa ferramenta nos permite avaliar, com boa precisão, o que podemos esperar em diferentes variáveis de desempenho zootécnico e financeiro. A ferramenta deriva de uma meta-análise que avaliou o desempenho de aproximadamente 3.000 animais em mais de 60 experimentos (teses, dissertações e artigos) publicados no Brasil. Vale ressaltar que níveis maiores de suplementação, desde que bem conduzidos, aumentam o potencial de desempenho e de retorno financeiro, mas aumentam também os investimentos em estrutura, logística e mão de obra treinada, portanto, a avaliação de qual estratégia é a melhor vai depender da realidade de cada fazenda.
Figura 4 – Expectativa de ganho de peso para cada estratégia nutricional. As projeções foram realizadas utilizando a ferramenta Predição de Desempenho a Pasto da Cargill/Nutron
Tabela 2 – Importância da relação ureia para proteína verdadeira e qualidade dos ingredientes farelados em suplementos proteicos e proteico-energéticos.
Item |
Importância |
Resultado |
Correta relação entre ureia/proteína verdadeira no suplemento |
Os bovinos precisam de proteína verdadeira para a produção de 3 aminoácidos essenciais, são eles valina, leucina e isoleucina |
Comprometimento da digestibilidade e do fornecimento de nutrientes para o animal = menor desempenho |
Qualidade dos ingredientes farelados |
Ingredientes de baixa digestibilidade (resíduos de colheitas) são menos aproveitados pelo gado |
Diminuição do ganho de peso |
E, não menos importante: Água!
É sempre importante ressaltar que disponibilidade e qualidade de água são fatores fundamentais para o bom desempenho do gado. Durante o período seco do ano, o produtor que utilizada aguadas naturais ou reservatórios naturais como cacimbas, precisa redobrar a atenção quanto a qualidade e disponibilidade desta água. Reservatórios que tendem a secar reduzem a disponibilidade ou dificultam o acesso do gado a água e, isso pode resultar em menor consumo de alimento e ganho de peso. Esse tipo de reservatório tende a ficar mais raso com a diminuição das chuvas, muitas vezes forçando os animais a entrarem no reservatório para ter acesso a água. Esses fatores podem aumentar a concentração e ingestão de toxinas, como a toxina botulínica (Souza et al., 2006;), além facilitar a contaminação por bactérias e vírus que são eliminados com fezes e urina.
Figura 4 – Animais dentro de reservatório, fator que aumenta proliferação de doenças e potencial de ingestão de toxinas.
Referências:
Souza et al. 2006. Esporos e toxinas de Clostridium botulinum dos tipos C e D em cacimbas no Vale do Araguaia, Goiás. Pesquisa Veterinária Brasileira.
Silva et al. 2020. Post-weaning growth rate effects on body composition of Nellore bulls. Animal Production Science. Acesso: https://doi.org/10.1071/