O alívio no mercado de câmbio no dia seguinte à decisão de juros durou pouco, e o dólar fechou em firme alta na quinta-feira, com o real diante de uma nova onda de aversão a risco no Brasil, causada por renovadas preocupações fiscais
O dólar à vista subiu 1,00%, a 5,364 reais na venda. A volatilidade disparou. A volatilidade implícita nas opções de dólar/real para três meses –uma medida do grau de incerteza sobre a trajetória para a taxa de câmbio– bateu 19,6% ao ano, de 18,8% do fechamento da véspera, rondando os maiores níveis desde outubro do ano passado. O real é a moeda mais volátil dentre as principais divisas emergentes. A reviravolta no câmbio vista a partir do fim da manhã refletiu forte reação do mercado a declarações do candidato à presidência do Senado Federal Rodrigo Pacheco (DEM-MG). O senador, apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro, disse que haverá discussão sobre nova ajuda a famílias na primeira semana do novo comando do Congresso e que será preciso sacrifício de premissas econômicas para manter o socorro às famílias. O agravamento da crise sanitária em meio à percepção de desorganização no governo tem tido efeitos sobre a popularidade do Presidente Bolsonaro e, por sua vez, alimentado temores no mercado de criação de mais despesas –o que ameaçaria o teto de gastos, visto pelo mercado como âncora fiscal do país. “Claramente há uma falta de orientação e clareza na mensagem. Gravíssimo para a ancoragem fiscal e até política. Não tem como não ter efeitos”, disse o profissional de um banco estrangeiro. Para Alfredo Menezes, sócio na Armor Capital, o mercado está envolto em muita insegurança com o cenário econômico e, nesse contexto, o momento é de aguardar, especialmente considerando a forte volatilidade. Para o Santander Brasil, o real corre risco de depreciar mesmo com a perspectiva de alta da Selic. “O viés de Selic mais alta seria num contexto cauteloso, com maior dificuldade fiscal e maior dificuldade no processo de enfrentamento da pandemia via vacinas, com riscos em torno do acesso” ao imunizante”, disse Mauricio Oreng, Superintendente de pesquisas macroeconômicas do Santander. Enquanto isso, o investidor estrangeiro continua “muito reticente” com o Brasil e não há no curto prazo perspectiva de retorno consistente de fluxos externos, disse Drausio Giacomelli, estrategista-chefe para mercados emergentes do Deutsche Bank, que vê o real em uma “montanha-russa”.
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Fonte:Reuters